Resumo da Excursão
A Ruy Braga é uma travessia que liga a parte alta do Parque Nacional do Itatiaia à parte baixa do Parque. Ela se inicia próximo ao acesso às Prateleiras e termina na Cachoeira do Maromba, num percurso de 18 Km. Se considerarmos todo o trecho de estrada a ser caminhado entre a portaria da parte alta (Posto Marcão) e o acesso às Prateleiras, podemos dizer que são 22 Km de percurso. Dentre as três travessias oferecidas oficialmente pelo Parque Nacional, atualmente esta é a única que pode ser realizada nos dois sentidos. Quem opta por iniciá-la na parte alta, como fizemos, enfrentará um desnível acumulado de quase 1600 metros, contra apenas 310 metros de aclive.
Apesar do percurso relativamente curto, optamos por realizar a travessia em dois dias. Desta forma, pudemos explorar sem pressa a região, incluindo alguns dos atrativos da parte baixa do parque. Para quem opta pelo pernoite no percurso, o parque oferece duas alternativa de pernoite: ou nas ruínas do abrigo Massena ou no abrigo Água Branca. Nossa opção foi o Massena. Ele não oferece nenhuma estrutura, mas fica localizado bem no caminho da travessia. Para acesso ao Água Branca é necessário se desviar da trilha principal por 5 Km (ida e volta). Diferentemente do Massena, parece que o Água Branca está operacional, mas não levantamos maiores informações sobre este abrigo.
Foto: Marcelo Hubner
Realizamos a travessia no dias 1 e 2 de junho de 2018. O final do outono garantiu temperaturas super agradáveis para a caminhada, e também manhãs geladas. Pegamos 8 no Posto Marcão ao início da travessia e 4,5, em torno das 6 da manhã, no segundo dia de caminhada. Apesar da previsão do tempo duvidosa para o final de semana, encontramos poucas núvens e conseguimos excelente visual a todo momento. A escolha das datas também levou em conta o trânsito nas estradas. Conseguimos fugir de engarrafamentos de Corpus Christi partindo do Rio após o início do feriado prolongado e retornando antes do final.
A travessia é muito bonita, em especial a sua primeira metade. Neste segmento, mais próximo da parte alta do Parque, conseguimos avistar diversas montanhas imponentes do planalto do Itatiaia, como as Agulhas Negras, Prateleiras, Pedra da Tartaruga e Pedra Assentada. A travessia é também um oportunidade de admirar estas montanhas de um ângulo um pouco diferente do tradicional, ou seja, do sudeste para o noroeste. Fora o visual das montanhas a perder de vista, a travessia também passa por cinco ruínas de antigas instalações, incluindo o abrigo Massena, abrigo Macieiras e o abrigo Lamego. Pouco antes do abrigo Macieiras, a trilha entra na mata fechada e ficamos praticamente sem nenhum visual até a aproximação final junto ao complexo do Maromba.
Foto: Marcelo Hubner
A trilha não é difícil de ser seguida, possui poucas bifurcações, e conta com sinalizações em pontos onde poderia gerar qualquer dúvida. O percurso é feito com frequência, sendo fácil identificar a calha da trilha. Apesar de bastante popular, a vegetação e o terreno estão bem preservados, tornando a caminhada ainda mais agradável e interessante. Particularmente a partir da região do Abrigo Massena, começamos a identificar pegadas e fezes recentes de mamíferos de pequeno e médio porte no leito da trilha, confirmando que a fauna local também costuma frequentar a região e se aproveitar da mesma trilha para o seu deslocamento.
Principais Dicas
Cachoeira do Maromba
- Uma das extremidades da travessia (o final no nosso caso) fica na parte baixa do Parque Nacional, em um ponto que em alguns relatos é chamado de Cachoeira do Maromba ou Poço do Maromba, ou ainda, estacionamento do Maromba. É importante não confundir este ponto com a vila do Maromba, que fica a mais de 50 Km dali, próximo a Maringá e Visconde de Mauá. As travessias da Serra Negra e do Rancho caído seguem para a vila do Maromba, mas a Ruy Braga não. Esta última segue para a parte baixa do Parque Nacional, cuja cidade mais próxima é Itatiaia.
- Outro ponto de atenção é que a Cachoeira do Maromba fica a quase 8 Km da portaria da parte baixa. Se o seu transporte ao final da travessia estiver lhe esperando na portaria do parque, saiba que você ainda terá que caminhar um bom trecho de estrada até lá. Esta estrada estava em processo de manutenção, com alguns trechos de asfalto em boas condições e outros de terra, transitável com certo cuidados por veículos normais.
- Tirando estes pontos de atenção, vale a pena mencionar que a Cachoeira do Maromba conta com um poço lindíssimo, e excelente para banho. É bom ter um tempo extra ao final da travessia para curtir um mergulho ali. Junto a Cachoeira existe também uma boa área de estacionamento (estava vazia na quinta mas lotada no sábado quando terminamos a caminhada) e sanitários. Além da Cachoeira do Maromba, dali saem duas trilhas bem curtas para visitação à Cachoeira do Véu de Noiva e Cachoeira Itaporani.
Reservas e entrada no Parque
- Para realizar a Ruy Braga é necessário solicitar autorização prévia ao Parque Nacional. Existe um formulário online, no site do parque, com este propósito. Se sua solicitação for autorizada, você vai receber um e-mail do parque alguns dias depois, com um documento de autorização que deverá ser apresentado na portaria. Depois de autorizada, você poderá conferir se o seu grupo aparece na agenda das travessias previstas.
Foto: Marcelo Hubner
- Além de entregar esta autorização, ao chegar na portaria será necessário preencher e assinar o termo de responsabilidade e, atualmente, devido ao surto de febre amarela, assinar um termo de conhecimento de risco. Com estes três documentos assinados, finalmente você vai receber um canhoto de autorização que deverá ser carregado ao longo do percurso para ser entregue na portaria oposta.
- Para a entrada é cobrada também uma taxa de visitação. O preço normal é R$ 17 para o primeiro dia e R$ 9,00 para dias consecutivos, no final de semana. Existem várias diferenças de preços envolvendo dias úteis, idosos, moradores das redondezas, então para ter certeza dos valores é melhor consultar o site do parque.
- No nosso caso, como ficamos hospedados dentro da parte baixa do Parque na véspera da travessia, pagamos logo na chegada as 3 diárias que precisaríamos. Recebemos um comprovante de pagamento que apresentamos no dia seguinte no portaria da parte alta, para evitar a cobrança em duplicidade dos ingressos. É interessante fazer logo o pagamento antecipado dos dias subsequentes para receber o desconto de direito. Este foi o único valor que pagamos ao parque para realizar a travessia. O pernoite no Massena não é cobrado. Quem opta pelo Água Branca precisa fazer reserva e pagamento da estadia em separado.
Deslocamento e translado
Foto: Marcelo Hubner
- Partimos do Rio em um único carro e na manhã do início da travessia o deixamos na área de estacionamento próxima à Cachoeira do Maromba. Dali seguimos com transporte contratado previamente para a parte alta do parque. O transporte nos deixou no Posto Marcão (portaria da parte alta). Dali começamos a caminhada e na tarde do dia seguinte estávamos de volta na Cachoeira do Maromba para recuperar o nosso carro.
- Do estacionamento do Maromba até a portaria da parte baixa, são quase 8 Km de percurso, realizados em 20 minutos de direção. Depois, mais 50 minutos até a Garganta do Registro e mais 40 minutos até o Posto Marcão. Ou seja, quase duas horas de deslocamento. Sabendo-se que o Parque restringe o início da travessia até as 9 horas da manhã, é fundamental deixar o Maromba no máximo às 7 horas. No nosso caso, partimos às 7:10 e conseguimos chegar exatamente às 9 horas na portaria.
- Nosso translado foi feito pelo Sérgio, taxista de Resende. Ele possui uma Doblô. O carro foi perfeito para 4 pessoas e o motorista. Viajamos com conforto e espaço suficiente na mala para as 4 cargueiras. Sérgio foi pontual e nos cobrou R$ 250 pelo serviço. Contrataríamos novamente e recomendamos. Seu contato é (24) 98149-9170. Ele possui também página no Facebook.
Hospedagem
Na véspera da travessia pernoitamos na Pousada Aldeia dos Pássaros, que fica localizada dentro do Parque Nacional. A entrada da pousada fica a 1,6 Km da portaria da parte baixa do parque. Pagamos R$ 310 por uma diária em um chalé para 4 pessoas. As acomodações são bastante antigas e simples. Como ponto positivo, existe um ótimo poço para banho dentro da propriedade. A localização facilitou o início da travessia, porém dificulta as refeições por conta da distância da cidade. A pousada oferece café da manhã e caldos para o jantar, mas não oferece almoço. Felizmente, seguindo por mais 1,6 Km a mesma estrada, existe um restaurante bem simples, porém com uma comida caseira deliciosa (restaurante Aporaoca). Almoçamos ali na véspera da travessia e ao final.
Abrigo Massena
- O abrigo está em ruínas. A maioria dos cômodos encontra-se tomado pelo mato, sem teto ou com o teto em péssimas condições, assim como as suas paredes. A sala principal, logo na entrada, é a que está em melhores condições. Apesar disso, o chão de madeira está extremamente danificado. Nesta mesma sala existe uma lareira, uma mesa de madeira e um banco junto à mesa. Esta estrutura facilita o preparo das refeições. Obviamente, não existem sanitários em funcionamento.
- Ao redor de todo o abrigo o mato alto impede a montagem das barracas e, na sala principal, o chão destruído e irregular também não é uma boa opção. A melhor alternativa é montagem na grande varanda que se estende por toda a parte frontal da construção. A largura é suficiente para uma barraca de não mais de 3 pessoas e o comprimento comporta diversas barracas. É importante que as barracas sejam auto portantes, caso contrário será difícil montá-las no chão de pedra. Usamos ainda alguns blocos de pedra encontrados no terreno para esticar alguns cordeletes adicionais.
- Seguindo uma trilha que se inicia bem na lateral do abrigo, é possível acessar uma parte mais elevada do terreno. Ali em cima, encontram-se as ruínas de uma outra construção, bem menor do que o abrigo Massena, mas tão destruída quanto. Neste ponto, se consegue uma vista ótima da Represa do Funil e da cidade de Itatiaia. Novamente, ao lado desta construção, a trilha continua e consegue-se subir ainda mais no terreno. Neste último nível se consegue uma bela visão 360°, possibilitando a vista de montanhas da parte alta do parque, além das cidades de Itatiaia e Resende. Nestas partes elevadas seria possível montar um ou duas barracas com um belo visual. Porém, a exposição ao vento certamente garantirá uma noite muito mais fria.
Água
- O acesso a água não foi um problema durante esta travessia. Frequentemente cruzamos com pequenos córregos e até uma pequena cachoeira. Acabamos desprezando a grande maioria deles simplesmente porque estávamos com nossas garrafas cheias por abastecimentos anteriores. Não existe água exatamente no abrigo Massena. A melhor opção fica 200 metros antes da chegada ao abrigo. Parece ser uma pequena nascente bem ao lado da trilha.
Download
- Faça download do tracklog gravado durante a excursão. Acesse também as cartas topográficas utilizadas na caminhada.
Resumo do Roteiro
31/05 - Saída do Rio rumo à Itatiaia às 9:10, chegada na Pousada Aldeia dos Pássaros às 12:20, incluindo aí uma parada na estrada para lanche e o procedimento de entrada na Portaria do Parque. Após nos instalarmos e almoçarmos, fizemos visita ao Poço do Maromba, Cachoeira Véu da Noiva e Mirante do Último Adeus.
01/06 - Saímos as 7:10 da parte baixa para a parte alta. Chegada no Posto Marcão às 9:00. Início da caminhada às 9:20. Chegamos no Abrigo Massena às 13:20. Antes de chegar no abrigo fizemos duas paradas e uma visita a uma primeira ruína que fica antes do Massena. Do Marcão até o Massena são 8 Km de percurso, excluindo a visita a esta primeira ruína.
02/06 - Deixamos o abrigo Massena às 08:00. Chegamos ao Macieiras às 09:50 onde paramos para lanchar. Alcançamos o Lamego ao meio-dia e visemos uma breve visita ao local. Finalizamos a travessia às 13:30. Tomamos um banho gelado no Poço do Maromba, almoçamos no restaurante Aporaoca e iniciamos viagem pro Rio.
Publicado em: 10/06/2018
Última atualização: 06/10/2024