De volta à Serra do Cipó
A primeira vez que ouvi falar da Travessia Alto Palácio x Serra dos Alves foi no retorno da Travessia Lapinha x Tabuleiro, batendo papo num restaurante com um casal que tinha acabado de concluir aquela travessia. As belezas e desafios relatados pelo do casal me fez colocá-la na lista das próximas incursões à Serra do Cipó. Em abril de 2019, os planos saíram do papel. Apesar de ter visto belas fotos do roteiro antecipadamente, confesso que me surpreendi com a experiência. O lugar é mais bonito do que eu imaginava.
Os pontos altos do roteiro sem dúvida são a passagem pelo Travessão (o divisor de águas das bacias dos rios São Francisco e do Peixe) e a chegada ao Cânion Boca da Serra, já nas imediações do vilarejo de Serra dos Alves. São lugares de beleza ímpar, que ficarão na memória por muito tempo. Além destes pontos, outros momentos serão lembrados com muita saudade: O acampamento na Casa dos Currais com direito a banho de rio, noite com céu esplendidamente estrelado, e visita de uma paca! A Cachoeira da Luci, a Cachoeira dos Cristais, além da vastidão dos campos rupestres nos rodeando durante toda a caminhada. Tudo isso na companhia de um grupo de amigos que, sem dúvida, fizeram todas essas experiências ganharem um sabor muito mais especial.
Já cansado da burocracia e da visitação ostensiva que assolam o Parque Nacional da Serra dos Órgãos e do Itatiaia, mudar o foco para a Serra do Cipó foi uma ótima opção. Permitiu organizar a excursão com mais simplicidade e curtir o clima de isolamento e contato profundo com a natureza que os montanhistas tanto prezam. Obviamente, a escolha de datas também faz muita diferença para evitar aglomerações. Conseguimos manejar as nossas datas para evitar os dias mais procurados, e mesmo dentro de um final de semana de feriado, fizemos a viagem com bastante tranquilidade.
Do ponto de vista do esforço físico, achei uma travessia relativamente simples de ser executada. São cerca de 40 Km distribuídos de forma razoável em três dias de caminhada, sem aclives ou declives extenuantes. Qualquer um habituado com atividades envolvendo acampamento móvel não terá dificuldades de vencer o percurso. Não existem passagens com técnicas de escalada. Os principais pontos de atenção envolvidos estão na orientação no terreno, na disponibilidade de água e o calor. Falo mais sobre estes tópicos nas seções de planejamento e orientação. O primeiro dia de caminhada certamente será o mais exigente, já que possui a maior quilometragem e maior aclive acumulado. Quem faz a travessia no sentido contrário, partindo de Serra dos Alves, certamente terá mais dificuldades. Isso porque enfrentará maior aclive acumulado, incluindo aí a subida do Cânion Boca da Serra.
Essa travessia já inspirou o planejamento de outras incursões na região, que parece ser rica em destinos ainda bem selvagens. Dentre os possíveis destinos, estão a visita à Cachoeira Braúnas, a travessia da Serra do Lobo e a travessia Altamira x São José da Serra. Isso para não mencionar a repetição da própria Alto Palácio x Serra dos Alves, que será muito bem-vinda no futuro.
Publicado em: 28/04/2019