De 03/02/2012 até 13/02/2012 estive em viagem para a Patagônia chilena na companhia dos amigos Ramon, Alexandre e Juliana. Eu e Ramon queríamos conhecer o Torres del Paine, Alexandre e Jú voltaram lá conosco para matar as saudades do parque! Amigos de viagem, obrigado pela companhia, foi demais! Amigos que colaboraram com equipamentos, dicas e energias positivas, muito obrigado! A viagem foi inesquecível. Daquelas que a gente volta pra casa já fazendo planos de quando viajar de novo para lá.
O roteiro:
Fizemos o circuito W, sendo que um pouco diferente do tradicional. Isso porque, pretendíamos conhecer o Paso John Gardner, que apesar de pertencer ao circuito "O", também foi incluído nos nossos planos. Além disso, embarcamos para lá com o parque ainda se recuperando do grande incêndio que devastou cerca de 17 mil hectares da sua área. Com isso, alguns acampamentos estavam fechados, como o Italiano. Isso nos obrigou a atravessar do Paine até o Cuernos em um só dia, reduzindo o tempo disponível para exploração do Valle del Francês.
Apesar do inconveniente de perdermos a parada no Italiano, nosso roteiro ainda poderia ter sido pior. Por sorte, re-abriram o trecho Paine - Grey (que estava interditado pelo incêndio) alguns dias antes de embarcamos. Tivemos sorte também de reabrirem o refúgio do Paine Grande durante nossa trilha. Caso contrário, precisaríamos atravessar do Grey ao Cuernos em um só dia.
Dica para quem pretende acampar no Chilenos: Descobrimos que existe uma trilha que liga o Cuernos a este acampamento sem passar pela Hostelaria Torres. Ela começa no meio do trecho Cuerno-Torres e termina no meio do trecho Torres-Chileno. Não chegamos a utilizá-la, mas para quem vem do Cuernos, parece poupar uma grande caminhada até a Hostelaria e evitar uma subida puxada da Hostelaria até o Chileno. Essa trilha não aparece representada no mapa que recebemos na entrada do parque, mas existe sinalização formal para ela no meio da trilha.
O clima:
Não pegamos nenhum frio absurdo. Infelizmente, não tínhamos termômetro para registrar a temperatura com precisão. O maior inconveniente, na verdade foi o vento. Ele foi o fator climático que mais nos expôs a situações de insegurança e sensação térmica desconfortável. Os dias mais frios foram os no Grey. Lá pegamos temperaturas que eu compararia com as que enfrentei no inverno nas Agulhas Negras ou na Pedra do Sino. Eu chutaria cerca de 4 graus positivos à noite. Dormi em um North Face Cat's Meow (temperatura de conforto até -7C). No Grey, entrei nele com segunda pele completa e camisa por cima. Nos demais acampamentos dormi nele apenas com a calça da segunda-pele e camisa de algodão.
À noite e nas primeiras horas da manhã, como era de se esperar, são os momentos mais frios. Passado o Grey, durante as caminhadas, frequentemente utilizávamos apenas uma calça convencional e camisa dry-fit. Os dias mais quentes foram no acampamento do refúgio Torres, onde chegamos a ficar de bermudas durante o dia. Seja qual for a circunstância, quando ventava, ventava gelado e diminuía bastante a temperatura percebida.
O que sobrou:
- Comida:
Já tinha ouvido relatos de pessoas que superestimaram este item e, mesmo assim, não conseguimos evitar de levar alguns quilos de comida apenas para passear pelo Chile. Estimar comida é sempre difícil, mas lembre-se de que pela manhã certamente você estará com pressa para por o pé na trilha, dificilmente você irá parar no meio do caminho para cozinhar seu almoço (até porque no Torres é proibido fogareiro nas trilhas) e na hora da janta você estará cansado demais para preparar um banquete. - Gás e fogareiro:
Calculamos 3 fogareiros e 3 cartuchos de 230g para 4 pessoas em 6 ou 7 dias de caminhada. Terminamos o circuito em 6 dias com 1 cartucho intacto e outros 2 com bastante fluido. O terceiro fogareiro nem saiu da mochila. - Segunda blusa térmica:
Imaginei que acabaria caminhando com uma e precisaria de outra mais limpa para dormir e usar nos refúgios após o banho. Não tive necessidade alguma de caminhar com a blusa térmica. Ou seja, bastava apenas uma para dormir. O mesmo seria verdade para a calça térmica, se eu não a tivesse ensopado de suor utilizando-a erradamente para caminhar algumas vezes. Você sai com a calça térmica no frio da manhã, mas com alguns minutos de caminhada já se torna dispensável.
O que faltou:
- Specs e cordeletes adicionais:
Esteja pronto para fixar sua barraca utilizando todas as amarras que ela disponibiliza. Se você só tem o conjutinho de specs para a fixação básica, vale a pena adquirir uns adicionais para prender naquelas amarras extras que aumentam a resistência ao vento. - Ajuste na capa de chuva:
Usei uma Deuter Aircontact. Ela vem com uma capa de chuva de elástico, mas o elástico não é regulável. Com a ventania, minha capa e a de outros colegas que também estavam de Deuter se soltou várias vezes. A capa da Lowe Alpine permite ajuste mais rigoroso com cordinhas. Talvez de uma próxima vez eu tentasse ir com uma capa ajustável. - Luva impermeável:
Menosprezei a sua necessidade e acabei com as mãos dormentes devido ao vento gelado soprando nas minhas luvas molhadas pela chuva. Recomendo, principalmente para quem vai fazer o "O" ou o Grey, as partes mais frias do percurso. Comprei um par para mim em Punta Arenas, infelizmente, apenas depois da visita ao parque. - Bastões de caminhada:
Sempre tive resistência a eles por tirarem a mobilidade das mãos. Acabei recorrendo a um cajado de madeira improvisado durante a viagem. A primeira vista pode não parecer, mas os bastões aliviam muito o impacto nos joelhos nas descidas e poupam a musculatura da perna nas subidas. Além disso, serão úteis para manter o equilíbrio nas diversas travessias de rios e para servir de apoio contra as rajadas de vento. Comprei um par para mim em Punta Arenas, infelizmente, apenas depois da visita ao parque.
"Item revelação":
- Calça impermeável:
Estava na dúvida se levaria ou não por ser mais pesada do que uma calça convencional. Acabei comprando uma Conquista Upsala no Brasil que se mostrou uma excelente aquisição. Me protegeu das chuvas frequentes, e por ser mais grossa, serviu de boa barreira contra o vento gelado e a vegetação. Usei todos os dias sem arrependimento.
03/02/2012 Rio → Santiago
Embarcamos no vôo de 18:25 rumo à Santiago. Havíamos comprado nossas passagens 3 meses antes, por R$ 1280 ida e volta. Todos os trechos operados pela LAN. Viagem chata, mas tranquila. Destaque para o sobrevoo da Cordilheira dos Andes. Estava quase anoitecendo e haviam muitas nuvens, mas ainda conseguimos admirar as montanhas geladas. Foi a primeira vez que vi "uma dessas" ao vivo. Fiquei muito feliz. Chegamos em torno das 22:00 horas em Santiago.
Estávamos levando comida liofilizada na bagagem, fora os polenguinhos, geléia de mocotó e outras coisas industrializadas. Já haviam nos avisado que a fiscalização na aduana chilena costuma ser rigorosa. Preenchemos as fichas de imigração sem omitir nenhuma informação. De nós quatro, o fiscal resolveu verificar a mochila do Ramon. Pediu para ele abrir e mostrar a comida. Ramon chateado por ter que estragar a embalagem com plástico que havíamos pago no Galeão, mostrou pro fiscal um saco de comida. Foi o suficiente para ele ficar satisfeito e nos deixar prosseguir.
Jantamos num restaurante no aeroporto onde conheci o típico pisco sour. Aproveitamos o caixa eletrônico do aeroporto para sacar alguns milhares de pesos chilenos. A conversão que fiz mentalmente ao longo de toda a viagem foi de 4 reais para cada mil pesos chilenos. Essa conta era rápida de ser feita, com alguma margem de segurança, ou seja, acaba resultando numa quantidade um pouco maior de reais do que a verdadeira.
04/02/2012 Punta Arenas → Puerto Natales
Nosso vôo partiu para Punta Arenas em torno de 01:30. Chegamos perto de 05:00 em Punta Arenas, depois de um pouso não muito fácil no pequeno aeroporto da cidade. O aeroporto é bem bonito e organizado, a despeito do seu tamanho. Estava vazio e fazia bastante frio do lado de fora. Um grupo grande de montanhistas dormia tranquilamente em seus isolantes térmicos e sacos de dormir aproveitando a privacidade oferecida pelo vão embaixo das escadas. Como aquela área nobre estava ocupada, nos instalamos nos bancos e no chão próximos a lanchonete. Tentamos dormir por ali entre um arrastar e outro das cadeiras de madeira da lanchonete. Deixamos o aeroporto em torno de 10:00, quando as lojas da Zona Franca começariam a se abrir.
Pagamos 3.000 pesos cada por uma van que nos levou até a Zona Franca. Descobrimos depois que teria sido mais barato pegar um táxi. Depois da Zona Franca pegamos um táxi (2.500 pesos) até o shopping Espaço Urbano Pioneiro onde existiam outras lojas de equipamentos. Ao final da tarde, pagamos mais 3.000 pesos de táxi até a viação Pacheco no centro, onde embarcamos para Puerto Natales (5.000 pesos somente ida ou 8.000 pesos ida e volta). Quando chegamos no terminal não havia mais passagens. Entretanto, um funcionário aparentemente fez um "overbooking pessoal" e nos colocou pra dentro. Nos dizia ele: "no te preocupes". Por sorte, após um pequena dança das cadeiras durante a viagem, conseguimos chegar em Puerto Natales sem sermos expulsos do ônibus. Até Natales são três horas de estrada.
Em Natales nos hospedamos na Casa Cecília. Pagamos 25.000 pesos por cada quarto duplo. Gostei bastante do local. Banho quente, calefação, acesso à Internet, bom café da manhã, ambiente agradável e bom atendimento. Possui mais de um banheiro de uso coletivo e estavam muito bem limpos e conservados. Pra completar, ainda pudemos deixar no armário a parte da bagagem que não utilizaríamos no parque. Logo ao chegarmos, já compramos no próprio hostel as passagens de ônibus para o parque na manhã seguinte por 6.000 pesos ida e volta.
Largamos nossas coisas no quarto e fomos correndo para o supermercado, antes que ele se fechasse, para garantir alguns itens de alimentação que deixamos para comprar no Chile, como queijo e presunto. Depois das compras fomos jantar no lanchonete Baguales. Um espaço agradável, muito bom para saborear a excelente cerveja produzida na cervejaria de mesmo nome. Voltamos para o hostel ansiosos por uma boa noite de sono e por começar nossa aventura no parque.
05/02/2012 Paine Grande → Grey
Às 7:45 o ônibus nos pegou na porta do hostel. Paramos ainda na porta de outros hostels para o embarque de outros passageiros, todos montanhistas. Muito bom o clima de expectativa pelo parque. Em cada parada gente de diversas nacionalidades, com suas mochilas gigantes nas costas e agasalhados contra o frio. Mais três horas de estrada ouvindo música em Espanhol (inclusive Zezé de Camargo e Luciano, em Espanhol) e estávamos enfim chegando no Torres del Paine.
Chegamos na portaria Laguna Amarga sob chuva fraca. Assim que o ônibus parou, um guarda-parque subiu para nos passar as recomendações de segurança e conservação. Foi bastante enfático sobre os campings irregulares, uso do fogo e a destinação do lixo. Ressaltou que os acampamentos Paine Grande, Italiano e Britânico estavam fechados devido ao incêndio e limitou até às 16 horas o horário de saída de qualquer acampamento, para evitar pernoites em áreas proibidas. Falou por alguns minutos e, depois, uma intérprete passou as mesmas recomendações em Inglês. Não sei se sempre fizeram isso, ou se aumentaram o cuidado após o incêndio.
Já estávamos cientes dos acampamentos fechados pois estávamos acompanhando as notícias sobre o incêndio pelo twitter. Fiquei preocupado, no entanto, com a recomendação sobre as cinzas no trecho Paine Grande - Grey, por onde pretendíamos passar. Segundo o guarda, seria necessário utilizar proteção para os olhos em caso de ventos. Outro ponto foi o alerta que ele fez sobre a saída do Grey. Como o Paine Grande estava fechado, ele classificou como um "tremendo pique" a saída do Grey com destino ao próximo acampamento aberto, no caso o Cuernos. Era exatamente o "tremendo pique" o que pretendíamos fazer... Rimos bastante com essa expressão mais tarde...
Como o tempo estava ruim, descartamos o início da trilha pelas Torres. Compradas as entradas (15.000 pesos para estrangeiros) retornamos ao ônibus com destino à Guarderia Pudeto, onde tomaríamos o catamarã até o Paine Grande, ponto de início da nossa caminhada. Lembro de ter avistado ovelhas, guanacos e flamingos pela janela do ônibus, acho que neste trecho do caminho.
Nos aproximando do Pudeto, o ônibus começou a atravessar trechos queimados. Ao chegarmos no píer para tomar a embarcação, era possível sentir cheiro de queimado e a paisagem era desoladora. Dentro do catamarã o cheiro persistia e a chuva aumentou. Quase não conseguíamos admirar o Lago Pehoé pelas janelas. Quando a embarcação encostou no Paine Grande, todos foram logo colocando as capas de chuva nas suas cargueiras.
Desembarcamos num campo de cinzas, cercando o Refúgio Paine Grande. Ficamos impressionados com o fato do fogo ter destruído toda a área no entorno do refúgio, chegando muito próximo à construção, sem no entanto, tê-la atingido. Mais tarde, fomos informados que a brigada que se encontrava dentro da construção combateu o fogo de lá de dentro nos limites de alcançar o refúgio. Ficamos imaginando os momentos de tensão que foram vividos ali! Do lado de fora, encontramos restos de outras pequenas construções, onde apenas os alicerces, banheiras de louça e envases metálicos sobreviveram às chamas.
Fizemos um pequeno lanche na varanda do refúgio, que se encontrava completamente fechado. Partimos às 13:30 rumo ao acampamento Grey. Foi uma subida difícil. Estávamos com todo o equipamento e alimentação dos próximos dias nas costas, choveu durante toda a trilha, ventava contra a direção do nosso deslocamento e ainda pegamos granizo. A capa de chuva da minha mochila se soltou algumas vezes. Me lembro que em certo trecho, a água escorria pela calça impermeável abaixo. Foi necessário caminhar curvado para enfrentar o vento, com uma mão evitando que a capa de chuva se soltasse e a outra protegendo o rosto dos pedaços de gelo.
Tentei tirar fotos no caminho e, com o vento, molhei a lente da câmera... Minha luva, que não era impermeável, ficou toda molhada, e com o vento gelado as mãos começaram a ficar dormentes. Por sorte, levei uma mais fina de backup, que foi minha salvação. A propósito, uma das escolhas mais acertadas da viagem foi comprar e levar uma calça impermeável. Comprei ainda no Brasil uma Conquista Upsala que utilizei todos os dias. Foi útil nas chuvas frequentes, e por ser mais grossa, também protegeu bem do vento frio e da vegetação. Minha Solo rip-stop era atravessada facilmente pelo vento em Punta Arenas.
Apesar de todas as intempéries e do longo trecho caminhando entre cinzas, as primeiras visões do Glaciar Grey e das montanhas geladas são compensadoras. Com todas as nuvens, ainda tivemos a sorte de sermos surpreendidos com pequenas janelas de sol que iluminaram o Lago Grey, o glaciar e os icebergs. Irresistível bater algumas fotos, mesmo com lentes molhadas. Para mim, estas foram as primeiras surpresas da tão falada instabilidade climática da Patagônia.
A trilha até o acampamento Grey foi fortemente afetada pelo incêndio. Em alguns cursos d'água, enchemos nossas garrafas com água salpicada de cinzas. O incêndio terminou bem próximo ao camping. Existiam alguns troncos de árvore sinalizando a proibição de montar barracas na área queimada. A área de camping é bem grande, com alguns lugares protegidos por árvores e custa 3.500 pesos por pessoa. Esperava que o acampamento ficasse bem às margens do Lago Grey, como vi nas fotos de amigos. Mas descobri que foi inaugurado um novo refúgio e que o antigo estava desativado.
Chegamos no acampamento Grey às 19:00, com 5 horas e meia de trilha. Duas horas a mais do que a previsão do mapa oficial do parque. Montamos nossas barracas sob chuva fraca e bem cansados. Para compensar o esforço da subida, o refúgio Grey ofereceu um bom banho quente (embora no banheiro sempre sujo). No refúgio também existe uma área para cozinhar que foi bastante útil em função do vento e da chuva.
06/02/2012 Ataque ao Paso
Apesar de não fazer parte do circuito W tradicional, havíamos decidido incluir no nosso roteiro um dia para ataque ao Paso John Gardner, onde é possível encontrar neve, além de permitir uma bela visão do Glaciar. Ainda estávamos cansados da viagem de avião e da subida ao Grey. Por isso, não acordamos muito cedo e saímos rumo ao Paso às 10:30.
Logo na saída, passamos pelo mirante que fica próximo ao acampamento, onde é possível avistar o Glaciar ao longe e uma simpática baía repleta de icebergs. Depois, seguimos a trilha rumo ao próximo acampamento, o Los Guardas. Depois do Los Guardas, atravessamos duas grandes ravinas. A erosão do terreno já impõe, por si só, bastante respeito. Como se não fosse suficiente, ainda existem placas indicando risco de desmoronamento, deixando claro que ali não é um lugar seguro para se ficar por muito tempo.
Em cada uma das ravinas, existe uma parede a ser transposta à pé e outra com auxílio de uma escada de metal. Não sei qual a pior parte. Passar pela enorme escada fixada de forma não muito confiável ou transpor à pé os instáveis paredões de areia e pedras. Como voltaríamos ao acampamento Grey no mesmo dia, estávamos apenas com as mochilas de ataque. Fiquei imaginando como seria atravessar esse trecho com cargueiras gigantes nas costas, principalmente, a parede sem escadas da primeira ravina: íngreme e com pedras rolando sobre a areia.
Atingimos o acampamento Paso às 14:45, depois de mais de 4 horas de trilha. Até o Paso John Gardner propriamente dito, ainda faltavam mais duas horas. Achamos então que o prudente seria retornar ao Grey. Fiquei decepcionado por não ver a neve e a vista, mas fizemos bem pois apesar de termos tido sorte com o clima na ida, a volta seria bem mais difícil.
Começou a ventar forte. Além das ravinas, a trilha passa por desfiladeiros bem próximos ao glaciar. Nas passagens expostas, foi preciso nos abaixarmos diversas vezes esperando as rajadas de vento mais violentas passarem. Me lembro de, em certo ponto, ter ficado abaixado por alguns minutos me segurando a uma pedra e tentando proteger de alguma forma o meu rosto, enquanto uma grande rajada de vento soprava em direção ao abismo, jogando areia na nossa cara.
Bem na minha frente, um casal com mochilas cargueiras estava deitado no chão, a espera de um momento melhor para prosseguir. A menina era pequena, mas carregava uma mochila de 60 litros lotada. Quando foi possível nos levantarmos, notei que ela tentava superar os obstáculos com um cajado de madeira improvisado, fazendo grande esforço. Logo à frente havia uma escada cavada na terra. Literalmente me arrastei pelos degraus e fiquei à espera do melhor momento para "dar o bote" no corrimão de metal que se iniciava mais adiante. Continuei a subida receoso, me segurando com força no corrimão.
Em uma das ravinas, meu amigo ficou sem os óculos, que foram levados pelo vento. Precisei me abaixar novamente e me segurar em outra pedra, enquanto o vento arremessava cascalho contra o meu rosto. Com certeza, o "ataque ao Paso" foi o pedaço mais perigoso do nosso roteiro. Recomendo fortemente a quem for passar por este trecho a esperar condições climáticas favoráveis no Los Guardas ou no acampamento Paso. Vento e chuva, principalmente neste trecho, podem ser fatais.
Passamos pelo acampamento Los Guardas às 16:45 e estávamos de volta no acampamento Grey às 17:50. Um total de 7 horas e 20 minutos de trilha, bastante cansativa. Apesar de termos abortado o ataque antes de atingirmos o objetivo final, foi um dia excelente para admirar o glaciar. A trilha segue ganhando cada vez mais altitude e avançando contra o curso da placa de gelo. As aparições do glaciar no curso da trilha vão ficando cada vez mais impressionantes. Assim que retornamos, tentamos visitar a antiga área de camping do Grey, na margem do lago. Caminhamos até bem próximo, mas a passagem estava interditada.
À noite, tivemos a boa notícia de que o Paine Grande havia se aberto naquele dia para hospedagem. Não estava permitido o camping, mas seria possível alugar quartos dentro do refúgio. Ficamos muito animados porque, até então, nossa única alternativa seria fazer a travessia Grey - Cuernos, o "tremendo pique". E como a Jú estava com dor no joelho, corríamos o risco de ter que regressar para Natales, se fosse de fato necessário fazer a travessia. Tentamos reservar quartos pelo rádio do Grey, mas não deixaram. O jeito seria sair cedo no dia seguinte e contar com a sorte.
07/02/2012 Grey → Paine Grande
Acordamos às 6:00 mas chovia forte, resolvemos aproveitar para descansar mais até que a chuva diminuísse. Ela havia nos poupado no ataque ao Paso, mas desta vez não teve jeito, tivemos que levantar acampamento sob chuva fraca. Partimos 10:00 rumo ao Paine Grande. A volta foi bem mais rápida e agradável do que a vinda. Dois dias a menos de comida nas mochilas, vento a favor, pouca chuva, nada de granizo. De qualquer forma, cheguei no Paine Grande às 14:20 com o ombro direito queimando de dor.
No dia anterior, durante o ataque ao Paso, acabei apelando para um cajado na tentativa de poupar joelhos e a parte frontal da coxa, que estava doendo nas subidas. Pela manhã, senti que o joelho esquerdo estava dando pequenos sinais de inflamação. Por isso, fiz toda a descida ao Paine com o cajado na mão esquerda protegendo apenas este joelho. Acredito que, de alguma forma, este desbalanceamento tenha acabado afetando o ombro. Felizmente, algumas horas após desequipar, a dor tinha sumido.
O refúgio não estava cheio, conseguimos um quarto para nós quatro. A ideia era acampar todos os dias, mas como estava proibido ali, tivemos a chance de descansar com um pouco mais de conforto e torcer para a recuperação do joelho da Jú. O refúgio Paine Grande é muito bom. Nem todos os serviços estavam em operação pois era o segundo dia de funcionamento após o incêndio. De qualquer forma, ao contrário do Grey, o banho quente era permitido a qualquer horário! Uma dádiva! Melhor que isso, só a possibilidade de descartar lixo. No Grey, éramos obrigados a guardar todo o lixo nas mochilas.
A decoração do lugar é bem legal, o ambiente é super agradável, gente de todo o mundo circulando pelos corredores, pelo refeitório. Possui um banheiro coletivo bem limpo e bem estruturado. O lugar é aquecido e, da janela do nosso quarto, era possível ver o Lago Pehoé bem à frente, o Cumbre Principal e os Cuernos. Fiquei imaginando como seria ainda mais maravilhosa aquela vista antes do incêndio, com aquele enorme gramado repleto de montanhistas com suas barracas coloridas. Foi bem triste ver todo aquele terreno queimado à nossa volta.
Devido ao incêndio, o preço da hospedagem estava menor: 15.000 pesos por pessoa. Mais 6.000 pelo jantar. Não tivemos opção já que estava proibido cozinhar naquela região. A comida, por sua vez, foi bem fraca pro preço cobrado. Nos serviram uma sopa de tomate de entrada. O prato principal era arroz com pedaços de cebola, cenoura e, com sorte, você conseguia encontrar um ou outro pedaço de frango. De sobremesa, leite com chocolate ou chá. A única coisa realmente saborosa foi a sopa de tomate bem quente.
08/02/2012 Paine Grande → Cuernos
Como o acampamento Italiano estava fechado devido ao incêndio, os planos para o nosso quarto dia no parque foram caminhar do Paine até o Italiano, largar as mochilas por lá, fazer o ataque ao Valle del Francês e seguir viagem até o acampamento Cuernos. Antes de partir, deixamos de presente para a equipe do Paine a parte da nossa comida que não pudemos consumir na noite anterior e botamos o pé na trilha às 08:45.
Foi um dia com tempo bem aberto. Saímos do Grey bem agasalhados e com poucos minutos de trilha alguns já estavam caminhando de camisa dry-fit. Aos poucos, a vegetação queimada foi sendo deixada pra trás. Por sorte, o Valle del Francês não foi afetado pelo incêndio. Difícil dizer qual o trecho mais bonito, mas este vale é um forte concorrente. Chegamos no Italiano às 11:40. Deixamos nossas cargueiras numa pilha de mochilas ao lado da guarderia do acampamento Italiano e começamos a subida do vale ao meio dia.
A trilha no vale possui vários trechos de "trepa pedras" que podem ser vencidos sem as mãos, apenas com o auxílio dos bastões de caminhada. Também existem alguns riachos a serem atravessados. A medida que avançamos, o vento e o frio vão aumentando, até chegarmos no primeiro mirante. Lá ventava muito, mas a vista é demais. É possível admirar o Glaciar Francês, as cachoeiras formadas pelo derretimento da neve, o Rio del Francês correndo pelo vale e o Lago Nordenskjöld lá em baixo.
Continuamos avançando em direção ao acampamento Britânico. Assistimos uma avalanche ao longe, nas paredes do Glaciar Francês. Ouvi pelo menos duas vezes o forte estrondo do desprendimento das placas de gelo do glaciar. Em torno das 14:00, decidimos retornar ao Italiano e continuar a caminhada até o Cuernos. Eu estava adorando o vale, fiquei decepcionado por não chegar até o seu final. Conhecer o Britânico e o mirante ao final do vale entrou para minha lista de pendências para a próxima viagem ao parque.
Ainda admirado com a beleza do vale, eu estava prestes a chegar em um dos trechos que mais me marcaram na viagem. A trilha do Italiano para o Cuernos talvez seja a mais bonita do roteiro. Após belas visões do Lago Nordenskjöld, a trilha desce rumo às suas margens, onde às 17:45 encontramos uma bonita "praia" de pedras pequeninas e roliças. Impossível não tirar as mochilas e deitar por alguns minutos para admirar o verde daquele lago bem na nossa frente. Deu pena deixar a praia para trás, mas as paisagens não pararam de nos surpreender.
Da praia até o Cuernos, agradeci diversas vezes por estar ali, tirei muitas fotos perplexo com a beleza do lugar. Simplesmente perfeito o contraste de cores das montanhas geladas, com o verde brilhante da mata e com os diversos tons de azul e verde do Lago. A margem do Lago é toda recortada por pequenas baías com praias de pedras. A sua superfície é constantemente varrida por rajadas de vento, levantando uma frente de água que percorre rasteira toda a extensão do Lago até atingir a costa. Fomos banhados por estas frentes enquanto estávamos na praia e na trilha. Frequentemente, sobre a superfície vimos pequenos tufões de água se formando e se desfazendo.
Chegamos no acampamento Cuernos às 18:40. Ele fica encravado em uma encosta à beira do Lago e aos pés das montanhas que o dão nome. O refúgio é bem bonito e a vista para o Lago e os Cuernos dão um charme especial ao local. Ventava muito ali, afinal, as frentes que nos atingiram na trilha também subiam por aquela encosta. Nos cobraram 6.000 pesos por pessoa para acampar. Estava lotado. Com o Italiano fechado, certamente um número muito maior de viajantes foi obrigado a pernoitar por ali. Filas para usar o banheiro, para lavar louça, para escovar os dentes, para tomar banho. Área da cozinha lotada.
Não havia nenhum lugar razoável para montar barracas. Os únicos espaços vazios eram inclinados, cheios de pedras, raízes, desprotegidos do vento e de um eventual curso d'água da chuva. Eu e Ramon tentamos limpar um terreno removendo pedras com a faca e meu cajado, que foi quebrado durante este procedimento. Alexandre a Jú pegaram os dois últimos lugares dentro de um domo plástico montado pela equipe do parque na área de camping. Descobriram ao lado do domo um lugar que parecia melhor para a nossa barraca.
Ramon e eu fomos limpar o novo terreno. Outro desafio foi fixar os specs. Fora as pedras relativamente superficiais, descobrimos também que existiam outras mais profundas. Só foi possível encravar os specs usando pedras como martelo. Depois de fixados, ainda os cobrimos com mais pedras pois a noite prometia bastante vento. Como não haviam cordeletes e specs suficientes para utilizar todas as amarrações extra, demos preferência ao lado de onde o vento estava vindo.
Estávamos cansados e preferimos nos desgastar o mínimo com as filas. A ideia do banho foi cortada de imediato. Cozinhamos em frente a nossa barraca vendo o sol descer atrás das montanhas. Depois fomos tentar dormir. No meu lado da barraca, a remoção de pedras me poupou de pontadas, mas ganhei de presentes buracos que faziam meu isolante térmico afundar em algumas partes. Enquanto tentávamos dormir, percebemos que ainda chegavam outros grupos de montanhistas. Ficamos imaginando em que lugar aquelas pessoas conseguiriam montar suas barracas...
09/02/2012 Cuernos → Torres
Acordei com o forte barulho do vento sacudindo as árvores e a nossa barraca. Ainda estava escuro. Percebi que alguns cordeletes haviam se soltado e batiam violentamente contra o sobreteto. A barraca se sacudia com força. O vento havia mudado durante a noite e soprava exatamente do lado oposto ao que protegemos com os cordeletes adicionais. Fiquei assustado com a força do vento e com o barulho dos cordeletes soltos lá fora. De repente, fui levantado do solo pelo vento. Aí tive certeza de que precisava me preocupar...
Confirmei se o Ramon estava acordado e recomendei que ele vestisse o anorak. Tentei encontrar minha lanterna de cabeça mas ela não estava onde eu havia deixado. Mais tarde, descobri que ela tinha sido arremessada para o outro lado da barraca. O vento soprava constantemente e, periodicamente, uma rajada mais agressiva cruzava o camping. Percebíamos a sua chegada pelo barulho lá fora, crescendo gradativamente em nossa direção. Nestes momentos, eu me deitava bem próximo a borda da barraca tentando mantê-la grudada ao chão, enquanto o Ramon segurava as armações.
Arrumamos rapidamente nossas coisas para um eventual abandono da barraca. Fiquei do lado de dentro fazendo peso para a barraca não decolar enquanto o Ramon foi para o lado de fora tentar corrigir as amarrações que se soltaram e mudar os cordeletes extra de posição. Depois de alguns minutos de briga contra o vento, começou a amanhecer e decidimos que o melhor seria levantar o acampamento e partir para as Torres. Afinal, ali estava lotado e não fazia mais sentido permanecer lutando para a barraca ficar no lugar.
Mastigamos algumas bobagens como café da manhã, enquanto eu sentado na varanda do refúgio, observava as latas de metal sendo empurradas e empilhadas pelo vento no canto de uma das lixeiras gradeadas. Às 7:00 deixamos o Cuernos com destino ao acampamento anexo à Hostelaria Torres. O vento não nos abandonou durante a trilha. Continuou soprando forte todo o tempo, com rajadas violentas frequentes. Fui jogado no chão duas vezes, com mochila cargueira e tudo. Na segunda vez, eu estava descendo perto de uma ribanceira. Ao ser derrubado tentei me segurar em algumas pedras e, por muita sorte, não cortei as mãos e os joelhos.
Fui arrastado para fora da trilha diversas vezes. Quando percebia o som da rajada de vento vindo em nossa direção, parava, fixava o bastão de caminhada (Ramon me emprestou um dele) no chão e esperava a rajada passar. Às vezes, era melhor se abaixar. Foi o que fizemos segundos depois de pensar em colher água em um simpático laguinho no caminho. Se formou um pequeno tufão sobre o lago e o vento aumentou de repente. Nos abaixamos enquanto uma grande varrida de vento e água passou sobre nós.
Embora não estivéssemos numa região tão exposta quanto no ataque ao Paso, foi bem assustador o vento na trilha. Percebíamos as rajadas se aproximando de nós com o vento e o barulho ficando gradativamente mais fortes, até sermos sacudidos e arrastados pelo caminho. A Jú, que estava mais afastada de nós, nos contou que encontrou uma garota que estava sozinha e acabou desistindo do circuito por causa dos ventos. Ia voltar para Puerto Natales.
Achei essa a trilha com o visual menos interessante dentre as demais. Saindo do Cuernos, ela se inicia com uma grande subida. As Torres del Paine se tornam visíveis apenas nos momentos finais, já próximo da bonita Hostelaria. Mesmo assim, percorremos um belo trecho ao longo do Lago, com sua superfície sendo constantemente varrida pelo vento e formando pequenos tufões. Depois, começamos a alcançar um agradável e amplo vale, um cenário diferente dos anteriores.
Cruzamos alguns córregos e dois rios, de botas, mas com cuidado ao escolher as pedras. Já cansado, ao avistar a Hostelaria me animei. Mas o vale parecia infinito até ela, e depois ainda descobri que existiam mais 2 Km de lá até a área de camping. Cruzamos o vale com o vento soprando contra nossa caminhada. A poeira e o vento contra os olhos os encheram de lágrimas, ao ponto de escorrerem pelo rosto. Apesar do vento não pegamos frio nem chuva no percurso.
Chegamos às 10:40 no acampamento. Eu estava muito cansado, sujo, fraco, desidratado e com fome. Os lábios estavam ressecados e inchados. Pra completar, consegui dois arranhões na lateral da barriga durante a montagem da barraca, por conta de alguns galhos retorcidos da árvore que escolhemos como abrigo. Foi ótimo poder tomar um banho e almoçar. Para acampar, cobram 5.000 pesos por pessoa. A área de camping é bem grande, oferece várias mesas de madeira, banho quente a qualquer hora, mas não tem espaço fechado para cozinhar. Para preparar nosso almoço precisamos improvisar barreiras de pedra em torno dos fogareiros.
O dia estava quente, foram muito úteis as calças-bermuda. Durante a noite, porém, choveu e ventou bastante. Havíamos pensado em jantar (o que seria um luxo: um dia com direito a almoço E janta!) mas tivemos que desistir da ideia. A barraca se sacudiu novamente, mas desta vez, havíamos reforçado a segurança com cordeletes improvisados e grande pedras. Conseguimos dormir tranquilos.
10/02/2012 Ataque às Torres
Amanheceu frio mas sem ventos. Partimos às 7:10 rumo ao principal cartão postal do parque. Ao caminhar pelos campos em frente a Hostelaria, cruzamos com as aves engraçadas que eu havia conhecido no dia anterior e com alguns coelhos correndo desconfiados entre os arbustos. A trilha começa com uma subida bem puxada, que se estende até o acampamento Chileno. Este acampamento é muito simpático, encravado entre montanhas e à beira do bonito Rio Ascencio. Fiquei com vontade de acampar por lá. Logo percebi que muita gente também gosta de lá, pois a área de camping estava lotada. Um mar de barracas semelhante ao que encontrei na Pedra do Sino, no Rio de Janeiro.
A trilha fica mais tranquila no trecho entre o Chileno e o acampamento Torres (não o acampamento da Hostelaria, mas o que fica lá em cima, bem próximo a base das Torres). Cheguei no acampamento Torres esgotado pelos 5 dias anteriores e pela subida até ali. Eram 9:30. Ainda faltava uma grande ribanceira de pedras e areia fofa por onde me arrastei imaginando como seria a visão do lago aos pés das Torres e sem forças sequer para fixar o bastão de caminhada no chão. E valeu muito a pena. Às 10:12 avistei aquele cenário lindo, que até então, eu só conhecia por fotos. Estava muito feliz.
Esperamos por duas horas o Sol iluminar as Torres diretamente. Ele clareou o lago algumas vezes, mas uma densa camada de nuvens insistentemente trafegava exatamente sobre as Torres. Tomamos água gelada do lago, descansamos deitados nas pedras à margem e acabamos desistindo de esperar que as nuvens dessem uma trégua. Partimos às 12:55 de volta para o nosso acampamento.
Quando passamos novamente pelo acampamento Chileno, lá estavam elas, as Torres iluminadas pelo sol. Mas já era tarde demais. O jeito foi colocar essa pendência na lista para o regresso ao parque, o que, se for possível, será muito bem vindo. Desci devagar a trilha de volta, poupando os joelhos e me despedindo pouco a pouco do parque. O sol já estava bem forte, iluminando as águas do Rio Ascencio que serpenteava pelo vale. Me arrependi de ter saído do acampamento com a calça térmica, que a essa altura, já estava encharcada de suor e causando muito calor.
Cheguei ao acampamento às 15:30, doido para tomar um banho e almoçar. Levantamos o acampamento de bermudas sob o sol forte. Caminhamos até o abrigo para esperar a van que faz o translado até a portaria Laguna Amarga por 2.500 pesos por pessoa. Embarcamos em torno das 19:30, descemos na portaria e tomamos o ônibus até Puerto Natales. Chegamos de volta à cidade em torno das 22:30. No caminho ainda tive a sorte de ver um avestruz que cruzou a estrada em frente ao nosso ônibus e uma simpática raposa que apareceu ao lado do café onde o ônibus fez uma parada.
Tentamos nos hospedar novamente na Casa Cecília, mas não havia lugares para todos. Nos recomendaram então o Hostal Los Pinos, bem próximo, na rua Phillipi 449. Pagamos 30.000 pesos pelo quarto duplo, desta vez com banheiro privativo. O lugar também é muito agradável, com todos os serviços que encontramos na Casa Cecília. Só não sei se seria possível deixar equipamentos guardados lá. Detalhe: ao lado funciona uma lavanderia. Pode ser útil quem precisar de umas roupas limpas a mais depois do parque.
Deixamos nossas mochilas no quarto e saímos imediatamente para o Baguales. Precisávamos comer e beber as cervejas da região, dais quais já estávamos com bastante saudade.
11/02/2012 Puerto Natales
Destinamos este dia para descansar e passear em Puerto Natales. A cidade parece ser bem pequena, possui construções simples, e é voltada para o turismo na região, em especial para o trekking no Torres del Paine. Pelas ruas se encontra inúmeros hostels, casas de câmbio, agências de turismo, lojas para compra e aluguel de equipamento de montanha. Frequentemente cruzamos com grupos cheios de equipamento nas costas, chegando ou deixando a cidade, falando em diversos idiomas diferentes. Um clima muito agradável para quem curte montanhismo. Se no seu roteiro tiver tempo, vale a pena deixar pelo menos um ou dois dias para uma relaxada em Puerto Natales.
É um lugar ótimo também para quem aprecia boas cervejas. Eu não sou conhecedor, pelo contrário, no Rio nem bebo. Mas as cervejas de lá são realmente muito saborosas. Minha preferida foi a Austral Patagona. Quem passar pela região não deve deixar de experimentar uma. Existem também bons restaurantes. Comemos muito bem enquanto estivemos na cidade. Nossa única experiência ruim foi com o tal do "Pastel de Choclo", típico chileno. É uma espécie de torta de milho DOCE, mas com carne e pedaços de frango (com osso e tudo) dentro.
12/02/2012 Puerto Natales → Punta Arenas
Partimos de volta a Punta Arenas, no meio da manhã. Punta Arenas parece ser uma cidade bem maior do que Puerto Natales, e bem menos acolhedora. Era domingo quando voltamos para lá e andamos por algumas ruas desertas do centro da cidade à procura do restaurante La Luna. Um vento gelado atravessava minha calça rip-stop como se ela não existisse. Um alarme de carro soava ao longe insistentemente sem que ninguém intervisse. As placas metálicas afixadas nas fachadas dos estabelecimentos rangiam balançadas pelo vento de um lado para o outro. Enfim encontramos o La Luna e fiquei surpreso por ter gente lá dentro, em meio aquele clima de cidade fantasma.
A comida estava muito boa, apesar do atendimento não ser 100%. De qualquer forma, recomendo. Depois do almoço voltamos para a Zona Franca para comprar mais alguns equipamentos e fazer hora até o nosso vôo para Santiago. Sim, este foi o dia mais chato da viagem. Passamos horas na praça de alimentação do shopping e no saguão do aeroporto de Punta Arenas. Dica: se você quiser dormir no aeroporto, tudo bem se você montar seu saco de dormir embaixo das escadas, mas não faça isso dentro do oratório. Fizemos a experiência e fomos expulsos de lá.
13/02/2012 Punta Arenas → Santiago → Rio
Próximo das 04:00 nosso avião decolou de Punta Arenas com destino a Santiago. Daí pra frente foi só o despertar de um sonho para a vida real no Rio de Janeiro...
Este artigo foi publicado originalmente em 21/02/2012 no site mochileiros.com
Publicado em: 13/05/2016
Última atualização: 03/06/2013