Marins x Itaguaré
Serra da Mantiqueira, MG/SP
3 dias - jun/2019

Roteiro

06/05) Rio → Abrigo Marins

Viagem do Rio de Janeiro para o Abrigo Marins. Saímos no início da tarde (13:30) para evitar engarrafamentos e chegar relativamente cedo no abrigo (19:30), com tempo para jantar e descansar para a caminhada no dia seguinte. Pouco antes de dormirmos, a temperatura era de 10°C.

07/05) Abrigo Marins → Base do Marins

Escalada da fenda antes do acampamento na base do Marins.
Escalada da fenda antes do acampamento na base do Marins.

Iniciamos a caminhada às 08:30 e chegamos na área de acampamento na base do Marins às 12:30. Esse trecho se inicia por uma estrada de terra abandonada, vai se transformando numa trilha pela mata e finalmente toma o aspecto característico da maior parte da travessia: terreno rochoso e irregular. Com 4,2 Km de caminhada, já próximo da área de acampamento, surge então o primeiro lance mais técnico da travessia: a escalada da fenda. Na verdade, existem duas fendas paralelas, uma mais baixa e outra mais alta. A maior tem cerca de 8 metros de altura e foi a opção da maior parte do grupo, que a considerou mais simples de ser vencida. Não há proteção fixa no local. A escalada é feita se aproveitando dos degraus de pedra que se encontram dentro da fenda.

Mais 600 metros de percurso e estávamos montando nossas barracas no belo descampado de frente para o Marins. Descansamos um pouco, preparamos nossas mochilas de ataque e às 13:40 partimos para o cume do Marins. A subida levou 1 hora. Foi um belo dia de tempo aberto e vento gelado. Curtimos o cume e descemos, chegando de volta ao acampamento às 16:30. Preparamos nosso jantar e assim que caiu a noite, nos recolhemos para descansar e fugir do frio. A temperatura registrada era de 3°C.

08/05) Base do Marins → Clareira antes do Itaguaré

Descida da corda após o Marinzinho.
Descida da corda após o Marinzinho.

Os planos para este dia eram avançar o máximo possível em direção ao Itaguaré, se possível, acampando aos seus pés. Menosprezamos o esforço que seria necessário para esse dia e começamos a caminhar às 09:10. Logo na saída tivemos as dificuldades de orientação que relatei na seção sobre orientação, e ficou claro que deveríamos ter saído mais cedo. Chegamos ao cume do Marinzinho às 11:30. Logo após a saída do Marinzinho, chega a segunda passagem mais técnica da caminhada: o lance da corda. Trata-se de uma descida bem vertical de cerca de 8 metros. Os relatos apontavam para a presença de uma corda fixa no local, mas como desconhecíamos as suas condições, preferimos levar a nossa por segurança. De fato encontramos uma corda já no local, aparentemente em estado de conservação bem razoável.

Apesar de bem vertical, existem degraus naturais na pedra que facilitam bastante a descida. A primeira metade do lance optamos por uma caneleta mais à direita de quem olha para pedra. No meio do lance, fizemos uma pequena passagem horizontal para ganhar uma outra caneleta que segue mais à esquerda. Essa horizontal é o ponto onde a corda é mais útil, já que os apoios para as mãos são mais escassos. Nas outras etapas, a corda pode ser usada apenas como um apoio, uma vez que existem algumas opções de agarras para serem aproveitadas.

Pedra Redonda no primeiro plano e Itaguaré ao fundo
Pedra Redonda no primeiro plano e Itaguaré ao fundo

Finalizado o lance da corda, a trilha continua em forte declive em direção ao primeiro fundo de vale antes da Pedra Redonda. Nesse momento, ficou muito nítida a dimensão do percurso que ainda tínhamos à nossa frente. Dali é possível observar a Pedra Redonda ainda bem distante na montanha à frente e, mais longe ainda, separado por um enorme vale, o imponente Itaguaré. A meta de alcançá-lo antes do escurecer começava a parecer não muito realística. Subimos do outro lado do vale e andamos por cerca de 300 metros sobre a crista até passar pelo lance do "corredor". Uma passagem estreita, com poucos metros de comprimento onde à direita temos uma parede pedras e vegetação e à esquerda, um grande vazio. Chegamos na belíssima Pedra Redonda às 14:00 e seguimos viagem.

Anoitecer no nosso segundo acampamento. Ao fundo o Itaguaré, ainda parcialmente ocluso por uma última elevação a ser vencida no dia seguinte.
Anoitecer no nosso segundo acampamento. Ao fundo o Itaguaré, ainda parcialmente ocluso por uma última elevação a ser vencida no dia seguinte.

Após mais alguns sobe-e-desce, uns dois fundos de vales vencidos e 2,7 Km adicionais de caminhada, chegamos a uma clareira para acampamento de onde já se enxergava o Itaguaré bem próximo, porém ainda parcialmente ocluso de trás de uma última elevação. Eram 16:30. Com o grupo exausto, decidimos que era um bom horário para montar acampamento, jantar e se proteger do frio. Parte do grupo, entretanto, estava com o estoque de água quase esgotado e precisou seguir adiante. O sol caiu iluminando de vermelho o paredão do Itaguaré à nossa frente. O dia tinha sido quente. Registramos 28°C durante a caminhada e o vento frio do dia anterior havia cessado. Apesar disso, com o cair da noite a temperatura despencou rapidamente até atingir poucos graus acima de zero. Com sede e cansados, fugimos para dentro de nossas barracas.

09/06) Clareira → Itaguaré → final

Havíamos combinado com nosso translado o horário de 12:00 para nosso resgate ao final da travessia. Queríamos fazer a visita ao cume do Itaguaré e ainda tínhamos parte do percurso até a base daquela montanha como dívida do dia anterior. Por isso, apesar do frio, às 7:30 começávamos nossa caminhada. O dia mais uma vez amanheceu com tempo aberto. Repetindo o feito do dia anterior, começamos a caminhada tomando o caminho errado. Acertamos logo o rumo e, assim que começamos a ganhar altitude, observamos os imensos vales ao nosso redor parcialmente cobertos com uma névoa baixa, como um oceano de nuvens. A bela paisagem nos encheu de ânimo. Alcançamos a passagem por dentro de uma gruta estreita que nos obrigou a tirar as mochilas para atravessá-la. Neste ponto já estávamos rindo da diversidade de obstáculos que a travessia nos apresentava.

Da esquerda para direita, o Marins, a Pedra Redonda, o Marinzinho e um oceano de nuvens baixas cobrindo o vale no amanhecer.
Da esquerda para direita, o Marins, a Pedra Redonda, o Marinzinho e um oceano de nuvens baixas cobrindo o vale no amanhecer.

Às 8:50 chegamos à base do Itaguaré, na bifurcação que leva ao cume da montanha. Encontramos o restante do grupo que havia acampado há alguns metros dali e às 9:15 iniciamos o ataque ao cume. Parte do grupo não quis fazer a subida, e ficou ali na base com as mochilas cargueiras. A subida é toda em trepa pedras, incluindo um lance simples de escalada de uns 3 metros de altura. O visual lá em cima foi sensacional. 360° de montanhas num dia lindo de sol. Com certa pressa para descer e já extasiados pelo visual, consideramos o famoso "pulo do gato" completamente dispensável e iniciamos a descida. Foram gastos 45 minutos com esta visita. Às 10:00 estávamos prosseguindo a caminhada.

Visual a partir do cume do Itaguaré
Visual a partir do cume do Itaguaré

Apenas a 15 minutos dali, finalmente chegamos ao esperado ponto de água da base do Itaguaré. Gastamos 20 minutos para recarregar as garrafas e prosseguir. A trilha segue pelo terreno rochoso até a Pedra Grande, e entra numa canaleta de pedras que exige certa atenção para ser descida. Lá em baixo, finalmente a vegetação volta a ser abundante e começamos a caminhar na sombra. Mas as dificuldades não se acabam. A trilha é íngreme e com a erosão, se tornou uma extensa voçoroca. Nos vimos desescalando não mais as rochas, mas os barrancos lamacentos e raízes de árvores expostas. Somente quando a trilha alcança o rio, em seu último quilômetro de percurso, se torna confortável para caminhar. A trilha atravessa o rio umas três vezes, e termina numa grande clareira do lado da estrada de terra. Finalizamos o percurso às 12:30, pensando apenas no banho e almoço no abrigo.

Embarcamos na caçamba do caminhão e retornamos para o abrigo após uma hora de viagem pela estrada de terra que conecta as duas extremidades da travessia. Tomamos nosso esperado banho, almoçamos muito bem e partimos de volta para o Rio às 16:00. Às 20:30 estávamos de volta à nossa cidade, felizes por termos concluído mais uma tradicional, e belíssima, travessia na Serra da Mantiqueira.

Resumo dos dados

Na tabela abaixo seguem os principais dados do percurso realizado, dividido em trechos. Para os trechos em que ocorreram falhas de navegação consideráveis, uma linha adicional marcada com (*) foi acrescentada. Nesta linha adicional, a distância, tempo, aclive e declive acumulados foram corrigidos eliminando-se o percurso indevido. Ou seja, são os dados esperados caso não fossem realizados erros no percurso.

Dados por trecho

DiaTrechoDistânciaTempoD.M.G.E.A.P.E.A.
07/06Abrigo até acampamento na base do Marins4,51 Km4:051554 m - 2234 m824 m210 m
07/06Ida e volta ao cume do Marins2,22 Km2:452226 m - 2423 m250 m250 m
08/06Base do Marins até clareira antes Itaguaré5,72 Km7:152087 m - 2378 m712 m759 m
08/06Base do Marins até clareira antes Itaguaré (*)4,84 Km6:002087 m - 2378 m622 m670 m
09/06Clareira até base do Itaguaré1,05 Km1:202154 m - 2226 m179 m138 m
09/06Clareira até base do Itaguaré (*)0,89 Km1:002154 m - 2226 m151 m111 m
09/06Ida e volta ao cume do Itaguaré (sem pulo)0,69 Km0:452226 m - 2316 m107 m95 m
09/06Base do Itaguaré até final da trilha3,26 Km2:251520 m - 2236 m61 m777 m
D.M. = Desnível máximo do trecho
G.E.A. = Ganho de elevação aculumulado
P.E.A. = Perda de elevação aculumulada

Na tabela abaixo, seguem os dados consolidados para a travessia completa. Nesta segunda tabela constam apenas os dados após os erros de navegação terem sido eliminados.

Dados consolidados

PercursoDistânciaTempoD.M.G.E.A.P.E.A.
Travessia completa, sem cumes13,50 Km13:301520 m - 2378 m1658 m1768 m
Travessia completa, com os cumes16,41 Km17:001520 m - 2423 m2015 m2113 m
D.M. = Desnível máximo do trecho
G.E.A. = Ganho de elevação aculumulado
P.E.A. = Perda de elevação aculumulada
Por: Ângelo Vimeney
Publicado em: 17/06/2019

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