Travessia Igatu x Lençóis
Chapada Diamantina, Bahia
6 dias - abr/2017

Acampamentos e Hospedagens

Nas minhas experiências anteriores visitando a Chapada comecei a notar que a região exige bastante cuidado no planejamento dos acampamentos. Esta última excursão só veio a corroborar esta percepção. As áreas de acampamento não são pré determinadas pela administração do Parque, até porque praticamente não existem sinais da atuação administrativa. Porém, devido às condições naturais,as boas áreas de acampamento são poucas, e acabam sendo reutilizadas pelos visitantes ao longo dos anos.

De forma geral, estas áreas são pequenas, com terreno irregular, parcialmente protegidas do tempo, excessivamente próximas de recursos hídricos e com pouca área de manobra para os rejeitos de acampamento. Ao planejar sua excursão para a Chapada, você verá que muitos tradicionais pontos de parada são chamados de toca (Toca do Gavião, Toca do Guariba, Toca do Macaco, etc). Não imagine que as tocas são grutas ou cavernas bem protegidas e com amplo espaço interno. As tocas são concavidades em paredes rochosas que historicamente foram utilizadas por garimpeiros e hoje servem de abrigo para os viajantes. São pequenas e, algumas, bastante expostas às intempéries.

Uma exceção a este panorama é a parte clássica do Vale do Pati, onde existe uma diversidade de casas de moradores com várias opções de acampamento estruturado e, até mesmo, oferta de acomodação em estilo de pousada. Fora esta exceção, devido às características que mencionei, é fundamental organizar excursões com número reduzido de participantes e estar atento às recomendações de acampamento com mínimo impacto.

Ajude a preservar aquela região para você e para as gerações futuras. Não jogue qualquer tipo de resíduo nos rios. Busque água no rio e lave sua louça longe das margens. Enterre suas necessidades longe dos rios e das áreas de acampamento. Traga de volta todo o lixo que você gerar, inclusive papel higiênico. Não tome banho com sabão, shampoo ou qualquer outro produto químico nos rios e lagos. Neste site existe informação detalhada sobre uso das áreas naturais com mínimo impacto: Leave No Trace. Alguns meses atrás existia uma versão brasileira desta iniciativa em www.pegaleve.org.br. Mas neste momento, infelizmente, o site está fora do ar.

Abrigo Xique-Xique

Nosso primeiro pernoite na Chapada foi realizado no abrigo Xique-Xique, localizado na cidade de Igatu, onde começamos nossa caminhada. Eu não tinha nenhuma referência anterior sobre o local, fora as informações que pesquisei na Internet. Após a hospedagem, descobri que fizemos uma boa escolha. Fomos bem recebidos pela Vanessa e Rafael, que mantém o abrigo bem limpo, organizado e decorado para agradar os escaladores. Os planos seriam dormir na área de acampamento, mas os quartos estavam vazios quando chegamos e então o grupo não resistiu à comodidade de manter as barracas guardadas dentro das cargueiras. O valor para o camping é de R$ 15 por pessoa, sem café da manhã, e não é possível reservar com antecedência. Os quartos podem ser reservados, e tem valores que variam de R$ 30 a R$ 60 na baixa temporada. No site do abrigo podem ser consultadas as informações mais atualizadas. Igatu é uma cidade minúscula. De qualquer forma, o abrigo fica localizado na parte mais central.

Toca do Guariba

Toca do Guariba
Toca do Guariba

Nosso roteiro previa passar a primeira noite da travessia nesta toca, mas não conseguimos chegar até este ponto vindo a partir de Igatu. Acabamos passando por ela na manhã do nosso segundo dia de caminhada. Paramos para um lanche e fizemos um rápido reconhecimento do local. Trata-se de uma toca de tamanho mediano, com espaço para duas barracas grandes na parte coberta e duas barracas grandes na área de vegetação à sua frente. Fica situada na margem direita verdadeira do Rio Pati (veja a localização precisa nos tracklogs). Alguns visitantes utilizam este ponto para fazer a visitação do canyon do Rio Guariba. O Rio Guariba é afluente do Rio Pati e a Toca fica localizada bem na frente da sua foz. Por estar entre estes dois rios, os dejetos de acampamento devem ser tratados com muito cuidado. A trilha que vai para a casa do Sr. Jóia começa exatamente a partir da Toca. Aparentemente esta trilha poderia ser usada para manejar os dejetos, ou para uma fuga em caso de cheia repentina nestes rios.

Casa do Sr. Jóia

Contatos na parede do Sr. Jóia
Contatos na parede do Sr. Jóia

Em 2015 deixamos o Vale do Pati subindo a exigente Ladeira do Império e, lá de cima, observávamos a simpática casinha do Sr. Jóia sendo deixada para trás, enterrada no fundo do Vale. Desta vez, tivemos a oportunidade de olhar a Ladeira do Império do ângulo oposto. No nosso segundo dia de caminhada, passamos pela casa do Sr. Jóia. Não tivemos a sorte de encontrá-lo, e nem pernoitamos ali pois nosso destino era a Prefeitura do Pati. Mas conhecemos a Dona Leu, sua esposa, que gentilmente nos preparou um delicioso suco de maracujá e nos presenteou com algumas frutas. Energia para retomar a caminhada. Não tivemos chance de conhecer o local em detalhes, mas havia área ampla para acampamento e a recepção foi muito cordial.

Toca do Biu (*)

Acampamento na Prefeitura do Pati
Acampamento na Prefeitura do Pati

A cerca de 30 minutos de caminhada para chegar na Prefeitura do Pati, tomamos uma bifurcação à direita para conhecer o Poço da Árvore. Logo nos deparamos com a Toca do Biu. Diferentemente das outras que eu havia conhecido na Chapada, esta é realmente ampla e bem abrigada da chuva, vento e do sol. Além disso, fica muito próxima do Poço da Árvore, que é um acesso à água fácil e muito bonito. A área para manejo dos dejetos não é muito boa, mas em comparação à média da Chapada, até pode ser considerada razoável. Quem procura uma viagem super econômica, ou quer curtir um pouco mais do ambiente selvagem, tem na Toca do Biu uma opção à Prefeitura do Pati.

(*) O único local onde vi menção ao nome desta Toca foi em um tracklog de GPS que baixei da Internet. Neste mesmo tracklog, o Poço da Árvore era chamado de “Poço da Ave”. Nunca achei o nome Poço da Ave em outra fonte, até descobrir que ele na verdade se chama “Poço da Árvore”. A palavra “Ave” talvez tenha vindo da forma “compacta” (árvri) que os nativos costumam pronunciar a palavra “Árvore”. É possível que este também não seja o nome exato da Toca. Se você tiver mais informações sobre esses nomes, deixe um comentário!

Prefeitura do Pati

Placa na Prefeitura do Pati
Placa na Prefeitura do Pati

Quem não conhece o Vale do Pati pode pensar que a “Prefeitura do Pati” trata-se de uma área com estrutura diferenciada dentro do vale. Mas não se engane, para o viajante, a Prefeitura do Pati não passa de mais uma casa de morador com opção de acampamento e algumas facilidades como chuveiro e jantar. Não há eletricidade. O acampamento é feito num gramado bastante espaçoso na frente da casa. Desde a última vez que passei por ali, o Jaílson, morador, fez uma melhoria cercando a área do acampamento. Assim o gramado fica livre do gado. O visual do Morro do Castelo, bem de frente, é um diferencial do local. Alguns integrantes do grupo encomendaram o jantar, que estava muito bom. Os banheiros estavam limpos e bem conservados.

Toca do Gaúcho

Toca do Gaúcho
Toca do Gaúcho

No nosso terceiro dia de caminhada, deixamos a Prefeitura e seguimos para o Capão pela trilha do Calixto. Depois de uma longa caminhada pelas gerais, chegamos na Toca do Gaúcho (veja a localização exata nos tracklogs da viagem). A toca chama logo a atenção de quem está caminhando por aquela trilha. Apesar de não ser muito ampla, é coberta por uma rocha bem imponente. Na parte interna consegue abrigar duas barracas grandes, porém o piso é bastante irregular. Na parte externa, tem terreno bom para a montagem de uma barraca grande. Esta toca não era nosso destino final. Com a passagem rápida não deu tempo de explorar o entorno com mais atenção. Não vi nenhum ponto de água por perto, mas pelo que eu já li em outros relatos na Internet, existe um ponto de água nos fundos. Seria necessário mais investigação para recomendar um pernoite neste local. De qualquer forma, dada a relativa proximidade ao Vale do Capão, interromper a caminhada neste ponto pode não ser estrategicamente interessante. Em distância, seria algo equivalente a pernoitar no Rancho, quando se opta pela trilha das Gerais do Rio Preto.

Camping Gorgulho

Ao final do terceiro dia de caminhada, chegamos ao Vale do Capão e lá acampamos no Camping Gorgulho. Ele fica na estrada principal (que vem de Palmeiras) a cerca de 6 minutos a pé do “centro” do Capão. Pagamos R$ 20 por pessoa, sem café da manhã. A área para acampamento é muito boa, com amplo espaço gramado e iluminação elétrica. Existe também uma área de cozinha para os campistas e banheiros com chuveiro elétrico. Apesar destas facilidades, achei a conservação das instalações ruim. Em uma próxima oportunidade, eu tentaria conhecer uma outra alternativa de acampamento nas proximidades.

É importante no entanto ficar atento a escolha da localização. O Vale do Capão atrai um público adepto à barulheira durante toda a madrugada. No centro é provável encontrar shows e algazarra, principalmente nos finais de semana e feriados. Se você está fazendo uma parada no meio de uma trilha de longo curso, provavelmente vai preferir ter uma noite de sono tranquila. Como referência, no Camping Gorgulho, apesar de estar relativamente afastado do centro, ainda dormimos ouvindo bem o som de uma banda de Rock tocando ao fundo. Se tivéssemos optado pela Pousada Tatu Feliz (onde ficamos na última viagem), certamente teríamos tido problemas com o barulho.

Toca do Macaco

Acampamento do Macaco
Acampamento do Macaco

No quarto dia de caminhada, deixamos o Capão, visitamos a Cachoeira da Fumaça por cima e descemos a Serra da Capivara em direção à Toca do Macaco, onde pernoitamos para, no dia seguinte, fazer o ataque à Fumaça por baixo. Mantendo o padrão da maioria das tocas, a Toca do Macaco não é muito espaçosa. Em compensação, poucos metros à frente, existe uma área de acampamento bem agradável. Fica no encontro dos Rios Capivara e Fumaça, às suas margens esquerda verdadeira, numa área bem sombreada. Conseguimos achar bons espaços para nossas quatro barracas. Havia também um espaço bom para cozinhar, com algumas pedras e troncos de apoio. Mas o local é infestado de mosquitos. Como o nível dos rios não estava muito alto, aproveitamos para cozinhar e relaxar nas rochas expostas no leito do Fumaça. Os corajosos tomaram banho na água gélida do Rio Capivara.

Toca da Capivara

Toca da Capivara
Toca da Capivara

No nosso quinto dia de caminhada, descemos o Rio Capivara em direção à Cachoeira da Capivara. Poucos metros antes do rio despencar formando a belíssima Cachoeira da Capivara, encontramos a Toca da Capivara. O local é lindo, esculpido em diversas camadas de pedra bem às margens do rio. Porém o piso é muito desnivelado, totalmente rochoso e perigosamente próximo do leito do rio. Ficamos tentados a dormir ali, mas preferimos seguir em frente até alcançar o acampamento Palmital.

Acampamento Palmital

Acampamento Palmital
Acampamento Palmital

Esta foi uma das melhores área de acampamento da viagem. Depois de sair do leito do Rio Capivara, subimos uma trilha íngreme à esquerda, e começamos a seguir contra o fluxo do Rio Palmital. A área de acampamento surge à esquerda, bem em frente ao rio. Conseguimos espaço para as barracas sem dificuldade, usamos algumas pedras maiores como mesa para o jantar e bem perto ainda encontra-se a Cachoeira do Palmital, onde tomamos banho logo depois de nos instalarmos no acampamento. A área de acampamento é sombreada e possui terreno bem razoável. Com certeza uma melhor opção do que ficar na Toca da Capivara.

Toca da Onça

Toca da Onça
Toca da Onça

No nosso último dia de caminhada saímos sob chuva do acampamento Palmital e seguimos com destino à Lençóis. Cerca de 1,2 Km após a saída do acampamento, passamos pela Toca da Onça. Esta toca é pequena e estrategicamente não muito interessante, pois está próxima do acampamento Palmital, que é um ótimo ponto de parada. Mas pode ser utilizada como abrigo de emergência e, por ficar num ponto sobrelevado, certamente fornecerá uma bela vista do entorno. Não pudemos comprovar este visual pois, ao alcançarmos a toca, a chuva persistia e visibilidade era baixíssima.

Pousada da Rita

Terminamos nossa travessia na cidade de Lençóis, onde passamos nossa última noite na Chapada. Desta vez escolhemos a Pousada da Rita. A Pousada fica bem localizada, bem próxima ao Centro e ao mesmo tempo numa rua tranquila. Não tem nada de luxuosa, mas os quartos são amplos e a recepção da Rita foi bastante amistosa. Pagamos R$ 80 por pessoa no pernoite, com café da manhã incluso. Consulte aqui o site para informações mais atualizadas.

Por: Ângelo Vimeney
Publicado em: 14/08/2017

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