Planejamento
Roteiro e permits
Ao contrário de outros Parques Nacionais, planejar o roteiro para a visita ao Grand Teton não foi uma tarefa complicada. Pelo menos no que se refere à escolha das trilhas. Assim que lemos sobre a Teton Crest Trail, e vimos algumas fotografias lindíssimas, não tivemos dúvidas de que ela seria o foco da viagem. Existem porém diferentes formas de realizar essa travessia. Tanto no que se refere aos pontos de pernoite, quanto aos pontos de início e fim. Após algumas pesquisas, decidimos realizá-la em 5 dias, entrando pelo Granite Canyon e saindo pelo Paintbrush Canyon. Dessa forma, maximizaríamos a extensão explorada dentro do parque, ao mesmo tempo, priorizando os trechos mais bem recomendados. As principais referências que utilizamos para o planejamento foram o site oficial do Parque, o Hiking Project, o Natural Atlas e o blog Clever Hike. Esse último foi o que serviu de inspiração para a escolha da Teton Crest Trail.
Em geral, para se realizar travessias nos Parques Nacionais é necessário a obtenção de uma autorização (permit) através de processo de reservas antecipado. No Grand Teton, esse processo é feito totalmente online. O interessado deve selecionar no site de reservas os pontos onde ele gostaria de fazer os pernoites ao longo da sua caminhada. Diferentemente do Yellowstone, onde existem locais de acampamento individualmente identificados com um código alfa-numérico, no Grand Teton existem áreas com alguns quilômetros de extensão, identificadas por um nome. No site de reserva, o visitante deve informar dentro de qual, ou quais, dessas áreas ele planeja fazer cada pernoite do seu roteiro.
Escolhidos os pontos de início, término e duração da nossa travessia, já tínhamos noção de quais seriam as áreas interessantes para os nossos pernoites. Porém, nada estaria definido até passarmos pelo tal processo de reserva. E a Teton Crest Trail é um destino bastante concorrido. Pontualmente às 13:00 do dia 11/02, eu e um amigo estávamos logados no site de reservas, freneticamente atualizando nossos navegadores, a espera do segundo em que se iniciariam os agendamentos. Nossa primeira aposta seria uma janela de datas no meio de agosto, um dos meses mais procurados. Tentamos selecionar os pontos de pernoite do nosso interesse e, em questão de segundos, não havia mais vagas disponíveis para nós. Rapidamente, partimos para outra janela de datas, enquanto as vagas iam se esvaindo. Conseguimos uma janela de 31/08 até 04/09, e respiramos aliviados. Em questão de poucos minutos, os meses de agosto e setembro estavam lotados. Garantimos pernoites no Upper Granite Canyon, Alaska Basin, Cascade South Fork e Paintbrush Upper.
Com o permit resolvido, precisávamos agora solucionar como nos locomover entre os pontos de início e fim da travessia. Estaríamos com um carro alugado. Decidimos estacioná-lo no ponto de início. Então, contrataríamos um transporte para nos buscar no final da caminhada e nos trazer de volta ao carro. Na viagem ao Yellowstone já havíamos testemunhado que este é um serviço não muito fácil de ser contratado na região. Sabíamos que não teríamos muitas alternativas. Felizmente, descobrimos a Teton Mountain Taxi, que oferecia exatamente o que precisávamos. Para baratear o serviço, fizemos o transporte de apenas duas pessoas até o carro. Chegando lá, retornariam com o veículo para buscar o resto do grupo. O atendimento da empresa foi bom, recomendaríamos para quem precisasse. Nossas reservas foram realizadas com 1 mês e meio de antecedência.
No total, teríamos 8 dias dentro do parque. Nossa travessia teria 5 dias, então restava definir os planos para os outros dias. Selecionamos 3 caminhadas de um dia para completar a nossa agenda. A cadeia de montanhas do Grand Teton possui 4 grandes vales (ou cânions) principais. Iríamos começar a Crest Trail pelo cânion mais ao sul (Granite Canyon) e finalizá-la no cânion mais ao norte (Paintbrush Canyon). Decidimos então explorar os dois cânions restantes (Cascade e Death Canyon) em 2 dois dias de caminhada de ida e volta. Para o último dia, deixamos em aberto a subida ao Amphitheater Lake, ou caminhadas curtas no Hermitage Point e/ou Two Ocean Lakes. Mais tarde, já no parque, acabamos optando pela última alternativa. Com esse roteiro, veríamos a grande maioria dos atrativos relacionados como as melhores destinos dentro Grand Teton, segundo vários sites, como o Planetware. E de fato, as caminhadas foram incríveis.
O Parque
Além dos permits para as caminhadas com pernoite na parte selvagem, outra preocupação comum na visita aos Parques Americanos é com a reserva do acampamento na parte estruturada. No Grand Teton, não há reserva para esses acampamentos. Mais precisamente, alguns campgrounds específicos oferecem campsites para grupos de 10 ou mais pessoas, e só existem reservas para esses campsites. Ou seja, para nós, e para a maioria das pessoas, não é o caso. A ausência das reservas simplifica a organização da viagem, mas cria a preocupação de não conseguirmos local para nos instalar. Ou pelo menos, não conseguirmos um bom local para nos instalar. Isso porque, existem algumas opções de campgrounds dentro do parque, mas nem todos possuem a mesma infraestrutura.
Basicamente, existem 6 campgrounds distribuídos pelo parque e apenas o Colter Bay e o Signal Mountain possuem estrutura completa, incluindo banheiros com chuveiro (pago) e alguma opção de alimentação paga. Dentre os dois, o Colter Bay parecia ter a melhor estrutura e preços um pouco menores. Por isso, ele foi nosso foco. Felizmente, conseguimos vagas nele para todas as noites que precisávamos, apesar de estar bem movimentado. Pelo que observamos nas últimas experiências nos EUA, quando a procura por recursos (sejam permits para a área selvagem ou acampamentos) é excessiva, algum mecanismo de reserva é adotado pelo Parque. Se não há mecanismo de reserva, é um forte indicativo de que a quantidade de vagas disponível atenderá a demanda existente sem problemas.
Os acampamentos da parte estruturada são bastante uniformes em todos os Parques. Contam sempre com uma boa área para montagem de duas ou três barracas, uma mesa e bancos, vaga para um ou dois carros e um bear locker. Existem banheiros distribuídos pela área de acampamento, porém os chuveiros ficam separados. No nosso caso, ficavam na Colter Bay Village, onde íamos de carro (5 minutos) para ganhar tempo. É lá também que ficava o restaurante e a pizzaria. Apesar da qualidade da estrutura ser elevada, sentimos que no Yellowstone existiam mais luxos a disposição do visitante. Na área de acampamento da Canyon Area no Yellowstone, por exemplo, existiam estruturas para lavagem de louça espaçosas com duas pias e lixeiras. No Grand Teton havia apenas uma espécie de sumidouro para descarte da água da lavagem da louça.
Fora os acampamento, banho e refeições, outro ponto a ser considerado nos gastos é o valor da entrada no Parque. Quem entra com um carro, paga apenas pelo carro, independente do número de ocupantes. Dessa vez conseguimos economizar esse custo. No ano anterior havíamos optado pela compra do passe anual. Por sorte, estávamos no limite da validade do passe e não precisamos nos preocupar em adquirir outro ingresso.
Os ursos
O Grand Teton é um dos três únicos parques nacionais norte-americanos habitado por ursos pardos. Na verdade, ursos pretos e ursos pardos. Assim como no Yellowstone, os visitantes são recomendados a andar em grupos e portar sempre os bear sprays. Infelizmente, no Grand Teton não há quiosques para alugar esse equipamento. Isso poderia ser feito na pequena cidade de Jackson, vizinha ao parque. Mas devido a nossa longa viagem desde de Las Vegas, chegaríamos tarde demais para encontrar as lojas abertas por lá. Nossa alternativa foi comprar os bear sprays na REI de Las Vegas, no dia anterior a tomarmos a estrada. Mais tarde, já no parque, o motorista do shuttle nos informou que o aeroporto de Jackson também oferece o aluguel. Numa próxima oportunidade, seria interessante averiguar os preços e horários de funcionamento por lá. O aluguel desse item, além de representar uma boa economia, é a atitude mais ecológica a ser tomada.
Outra diferença entre os dois parques é que, enquanto na parte selvagem do Yellowstone é empregada a técnica de pendurar os alimentos na árvore para protegê-los dos ursos, no Grand Teton é obrigatório o uso de bear canisters. Trata-se de uma lata onde devem ser mantidos todos os alimentos, ou qualquer item com cheiro, para impedir que os ursos os acessem. Já tínhamos tido experiência com esse equipamento no Yosemite e no Kings Canyon. No artigo sobre a fauna do Yosemite, falo mais sobre ele. No Yosemite, esses canisters eram alugados pelo Parque. No Teton, eles são emprestados.
Nossa travessia teria 5 dias, uma duração que exige um bom malabarismo para conseguir fazer todos os itens entrarem no bear canister. É necessário a escolha de alimentos o mais compactos o possível. Os itens de higiene, se algum, precisam ser também muito bem dosados. Os kit de socorros precisa ser otimizado e distribuído entre os canisters dos participantes. Quem não está acostumado com essa restrição certamente terá dificuldades em fazer boas escolhas de itens para transportar. Com um pouco de experiência e concessões quanto à higiene e socorros, acredito que seja possível fazer travessias de até 6 dias usando os canisters. O fato é que trata-se de um equipamento bem inconveniente de ser utilizado. Ficamos com saudades dos bear poles do Yellowstone.
Passagens aéreas
O melhor destino aéreo para visitar o Grand Teton é a cidade de Salt Lake City. Porém, assim como na viagem para o Yellowstone, acabamos voando para Las Vegas. Essa opção acrescenta cerca de 6 horas de estrada entre cidade e parque, mas gera uma economia em torno de 50% em preço de passagens. Salt Lake não é um destino muito procurado. Ao passo que, frequentemente, se encontra promoções para Las Vegas. Desta vez, por exemplo, conseguimos passagens mais baratas do que no ano anterior, apesar do dólar estar mais caro. A compra foi feita com quase 5 meses de antecedência. A compra entretanto teve um inconveniente: Precisaríamos voar por Guarulhos. Ou seja, teríamos um transtorno e um custo adicional referente ao trecho Rio de Janeiro ‐ São Paulo. Algum tempo depois, a companhia (American Airlines) acabou alterando o horário do nosso voo de ida. Com isso, conseguimos uma brecha para mudar nosso aeroporto para o Galeão, pelo menos no voo da ida.
Nessas viagens de montanhismo sempre existe uma preocupação com a alfândega, pois geralmente transportamos algum tipo de alimento para uso nas caminhadas. Nas últimas fiscalizações realizadas em Las Vegas, passamos sem problemas, apenas informando aos inspetores que transportávamos alimentos industrializados, desidratados ou liofilizados. Na viagem para o Yosemite, por outro lado, encaramos uma inspeção minuciosa, que nos fez perder tempo e algumas embalagens de alimento. Naquela ocasião, a inspeção havia ocorrido em Miami. Nesta viagem, faríamos uma conexão exatamente em Miami, onde seriam portanto realizados os procedimentos alfandegários. Isso nos gerou certa apreensão. Apesar do histórico ruim, dessa vez, passamos sem nenhum problema. Na verdade, praticamente não se importaram com as bagagens.
Aluguel do carro
Na viagem para o Yellowstone havíamos alugado um Dodge Grand Caravan para um grupo de 5 integrantes. Não foi trivial organizar as bagagens, mas o carro atendeu às nossas necessidades. Dessa vez, nosso grupo teria uma pessoa a mais. Apesar disso, acreditávamos que, com um pouco mais de organização e planejamento, ele comportaria os 6 integrantes e seus equipamentos. No final, uma amiga não pôde participar e o grupo voltou ao mesmo tamanho do ano anterior. Acabamos relaxando um pouco nas restrições de bagagem. Como resultado, mais uma vez foi preciso brincar de quebra-cabeças para arrumar a bagagem no carro. Ficou a lição para uma próxima oportunidade: O Dodge Grand Caravan é até capaz de transportar 6 montanhistas. Porém, é necessário um alto comprometimento do grupo com o limite de equipamentos. Devem ser carregados apenas os itens essenciais para a estadia no parque. Aquelas roupas extras para esticar a viagem para um outro destino qualquer, ou aquelas comprinhas para trazer de volta ao Brasil farão toda a diferença na hora de organizar o carro.
Nossa reserva foi realizada 4,5 meses antes da viagem. Repetimos as pesquisas nos sites Rent Car e o Rental Cars, que também haviam funcionado muito bem no ano anterior. Fechamos negócio com a Alamo, por um bom preço, com todos os seguros incluídos: seguro do carro, seguro contra roubo, seguro de danos a propriedade de terceiros (todos sem franquias) e motorista adicional gratuito. Dessa vez, tivemos um pequeno problema durante um estacionamento em Las Vegas. O investimento nos seguros valeu a pena. Tivemos uma burocracia mínima e tudo se resolveu sem gastarmos nada a mais. E a Alamo mais uma vez ganhou pontos na nossa confiança.
Publicado em: 06/10/2019
Última atualização: 06/10/2024