Vale do Pati
Chapada Diamantina, Bahia
6 dias - out/2015

Roteiro

Nosso roteiro inclui pouco mais de 75 Km de trilhas em seis dias de caminhada. Sem contar com os dois dias utilizados para ida e volta do Rio de Janeiro até a Chapada. A viagem foi realizada na primavera de 2015, entre os dias 29/10 e 05/11. Acessamos o Vale do Pati a partir do Vale do Capão, via Gerais do Rio Preto. Conhecemos algumas das principais atrações do Vale, como o Cachoeirão e o Morro do Castelo e saímos através da trilha da Ladeira do Império, chegando na cidade de Andaraí. Abaixo, faço um resumo das atividades de cada dia. Na página de downloads estão disponíveis os tracklogs da excursão.

Dia 1) Rio → Vale do Capão

Reservamos este dia para chegar o mais próximo possível do ponto de início da nossa trilha. Escolhemos como destino final o vilarejo do Vale do Capão, onde teríamos uma pousada para descansar da viagem e alguma infraestrutura para alimentação antes de começarmos a travessia. Voamos do Rio para Salvador, depois de Salvador para Lençóis. Contratamos um serviço de translado para nos buscar no aeroporto de Lençóis e nos levar até o Vale do Capão.

Como não é permitido transportar cartuchos de gás para os fogareiros no avião, solicitamos ao motorista, que ao nos buscar no aeroporto, já levasse com ele cartuchos de gás comprados previamente na cidade de Lençóis. Assim, pudemos seguir direto do aeroporto para o Vale do Capão, sem sair da estrada principal para fazer compras em Lençóis. Descrevo aqui mais detalhes sobre a logística de transportes. No Capão, nos hospedamos na Pousada Tatu Feliz. Mais informações sobre as hospedagens aqui.

Dia 2) Vale do Capão → Rancho

Trilha de Bomba para o Rancho
Trilha de Bomba para o Rancho

Já havíamos contrato previamente, também um serviço de translado do Capão para o Bomba (veja os detalhes aqui). Fomos deixados bem no início da trilha para o Vale do Pati. Pesquisando sobre o Pati, verifiquei que muitos grupos costumam fazer todo o trecho do Bomba até o Vale do Pati, ou vice-versa, em apenas um longo dia. No entanto, como estaríamos com bastante equipamento e um grupo heterogêneo, achamos mais interessante fazer uma parada intermediária no Rancho, ponto sobre o qual eu não tinha muitas informações. É uma estratégia que precisa ser usada com cuidado para não degradar aquele local (veja mais detalhes quando falo sobre os acampamentos).

Nosso primeiro dia acabou ficando bem curto, o que não foi de todo ruim. Assim pudemos nos deslocar do Capão até o Bomba sem pressa, além de ter tempo para curtir o próprio Rancho. Foi uma caminhada agradável, com as primeiras visões da Chapada, mas neste dia o tempo encoberto não nos propiciou muita contemplação.

Dia 3) Rancho → Toca do Gavião

Morro Branco visto a partir das Gerais do Rio Preto
Morro Branco visto a partir das Gerais do Rio Preto

Considero que este dia ficou muito bem dimensionado em quilometragem e tempo. Saímos do Rancho e partimos para a Toca do Gavião. Caminhamos pelas Gerais do Rio Preto, de onde conseguimos belíssimas visões do Morro Branco, do Vale do Pati e todas as formações montanhosas nos arredores. Foi neste trecho que passamos também pelo famoso Mirante da Rampa. É uma trilha realmente muito bonita, do início ao fim. Chegando na Toca do Gavião, deixamos nossas mochilas cargueiras e seguimos mais leves para conhecer o Cachoeirão por cima.

O Cachoeirão por cima é um lindíssimo. Vale muito a pena a visita, principalmente se estiver com um bom volume d'água. No retorno do Cachoeirão, montamos nosso acampamento na Toca. Também não tínhamos quase nenhuma informação sobre a Toca. Assim como o Rancho, este local precisa ser utilizado com muito cuidado (leia a parte sobre acampamentos).

Dia 4) Toca do Gavião → Dona Raquel

Descendo o Rio Pati em direção à Cachoeira dos Funis
Descendo o Rio Pati em direção à Cachoeira dos Funis
Foto: Felipe Vimeney

Nosso plano inicial era sair da Toca do Gavião e partir direto para a casa de algum morador no interior do Vale, possivelmente o Sr. Agnaldo, onde montaríamos acampamento. Com o acampamento montado, planejávamos então conhecer a Cachoeira dos Funis. No entanto, ao sair da Toca e começar a adentrar o Vale, decidimos conhecer a Ruinha e tomamos uma trilha diferente da programada inicialmente. A Ruinha é um bom ponto de acampamento, valeu a pena conhecer a infraestrutura disponível, mas não acho que seja um ponto turístico de grande relevância, perante as outras possibilidades do Vale.

Descansamos um pouco na Ruinha e seguimos a trilha que leva até às margens do Rio Pati. Nosso objetivo agora era tomar a trilha que margeia o Rio Pati, para conhecer a Cachoeira dos Funis e chegar à casa do Sr. Agnaldo. Mas não sabíamos que esta trilha não é simples de ser seguida para quem está com grandes cargueiras nas costas. Então, uma parte do grupo ficou tomando banho nos poços do Rio Pati enquanto outra parte, sem as cargueiras, foi explorar a região.

Vale do Pati visto do mirante após a Ruinha
Vale do Pati visto do mirante após a Ruinha

Percorremos cerca de dois terços da trilha seguindo o rio em direção ao Vale. Passamos por vários poços super convidativos para um bom banho e descobrimos que não existe apenas uma Cachoeira dos Funis, mas sim, uma série de quedas d'água, muito bonitas. A trilha é percorrida sobre pedras bem às margens do rio, às vezes, atravessando-o e com trepa pedras bem acentuados ao lado das cachoeiras. Uma trilha pra ser feita com atenção, de preferência sem as cargueiras. Com as cargueiras, talvez seja uma opção sair bem cedo da Ruinha para pernoitar no interior do Vale, ou vice-versa, porém sempre com muito cuidado e, de preferência, contando com pessoas experientes no grupo.

Após conhecer parte desta trilha, retornamos para reencontrar o grupo no poço do Rio Pati. Daí voltamos um pouco para tomar uma outra trilha que leva ao Vale, porém afastada das margens do rio. Apesar da grande ladeira que precisamos enfrentar logo após a Ruinha, é uma trilha bem mais apropriada para ser percorrida com as mochilas. Ao chegar no final desta grande ladeira, fomos compensados por um mirante com belíssimo visual do Vale ao final da tarde. Começamos a descer em direção à casa dos moradores e nos instalamos na casa da Dona Raquel.

Deixando a Caverna do Morro do Castelo
Deixando a Caverna do Morro do Castelo
Foto: Felipe Vimeney

Dia 5) Dona Raquel → Sr. Eduardo

Neste dia, deixamos nossas cargueiras na Dona Raquel, exploramos o Morro do Castelo, retornamos para Dona Raquel e partimos para o Sr. Eduardo. Conseguimos explorar bem o Morro do Castelo, mas existem tantos pontos para visitar lá em cima que certamente teríamos aproveitado melhor se não tivéssemos que partir para o Sr. Eduardo no mesmo dia. Recomendo muito a visita ao Morro do Castelo, de preferência com bastante tempo para explorá-lo com tranquilidade.

Já haviam me avisado que, uma vez dentro da caverna, existem dois caminhos para chegar em mirantes diferentes. Tomamos o mais óbvio, caminhando pelas partes mais amplas do salão interno e buscando a luz do outro lado. Chegamos a uma área externa gigante, onde gastamos bastante tempo admirando, fotografando, subindo e descendo de pedras para buscar novos visuais. Ao retornamos para caverna, tentamos encontrar o outro caminho. Me mantive próximo às paredes da esquerda, e avistei uma parte do chão com areia fina, deslizando para dentro de uma concavidade na parede. Ali o vento parecia correr para dentro de um buraco, certamente a passagem para o outro mirante. Infelizmente, já não tínhamos tempo para explorar mais. Tivemos que deixar para uma outra oportunidade.

Dia 6) Cachoeirão por baixo

Explorando o interior do Cachoeirão
Explorando o interior do Cachoeirão
Foto: Felipe Vimeney

Acampados no quintal do Sr. Eduardo, reservamos este dia para um bate e volta no Cachoeirão por baixo. Considero que um dia inteiro reservado para este programa foi uma escolha muito boa. A trilha margeia o rio quase que integralmente, desde o quintal da casa até a queda d'água. Na maior parte do percurso caminhamos dentro da mata, no interior de um canyon, ganhando inclusive bastante elevação, até descermos efetivamente para dentro do leito, onde avançamos sobre as pedras até chegarmos a um lindo poço. Um lugar perfeito para tomar banho e contemplar as quedas d'água.

Explorando o interior do Cachoeirão
Explorando o interior do Cachoeirão
Foto: Felipe Vimeney

Na realidade, como o Cachoeirão estava bem seco, só existia uma queda d'água forte à nossa frente e à sua esquerda, percebíamos com dificuldade um spray que denunciava a presença de um curso d'água tímido caindo ali. Apesar da queda d'água não estar acontecendo em todo seu esplendor, o local é maravilhoso. Aproveitamos que fluxo não estava tão forte para subir o paredão de pedras que fica ao lado esquerdo do poço. Conseguimos ver o grande poço do alto e chegamos em lugares que provavelmente são impossíveis de se alcançar quando a cachoeira está forte. Recantos rochosos cobertos de líquens, um tom de verde e uma densidade de musgos que dependem de um nível de umidade que seria difícil de encontrar em qualquer outro lugar. Parecia que estávamos em uma espécie de floresta encantada, em algum filme ambientado num mundo fantástico.

Ficou para uma outra oportunidade tentar explorar um segundo poção, que avistamos quando estávamos no Cachoeirão por cima, mas não localizamos quando chegamos na parte de baixo. Posteriormente, observando as imagens do alto, verificamos este segundo poço ficará à esquerda, quando caminhamos pelo leito do rio rumo à queda d'água.

Dia 7) Sr. Eduardo → Andaraí

Acordamos cedo para começar nossa última trilha na Chapada. A cansativa trilha da casa do Sr. Eduardo até Andaraí, pela Ladeira do Império. Nos primeiros minutos da caminhada, a trilha passa pelo encontro do rio Cachoeirão com o rio Pati. O dia estava nascendo e o lugar estava espetacular. Depois, na longa subida da Ladeira do Império, fomos nos despedindo vagarosamente do Vale do Pati, enquanto ganhávamos altitude, subindo o canyon do Rio Pati em direção à Serra do Ramalho. Ao longo dos quilômetros o ambiente vai gradualmente se convertendo do verde úmido do fundo do vale para o cascalho avermelhado e árido nas imediações de Andaraí. A trilha até a primeira rua de Andaraí tem quase 14 Km. De lá, andamos mais um quilômetro até a Pousada Sincorá.

A dura trilha até Andaraí
A dura trilha até Andaraí

Assim que chegamos na Pousada ligamos para o restaurante Kabana de Pedra. Eu já havia conhecido os donos do restaurante na minha primeira viagem para a Chapada, quando me hospedei na pousada de mesmo nome, na cidade de Ibicoara. Gostei muito da hospedagem e desta vez resolvi conhecer o restaurante. Nosso translado da pousada para o restaurante (que fica na estrada) e vice-versa foi uma cortesia do Carlos, dono do restaurante, que faz essa gentileza para os seus clientes. O almoço foi excelente, recomendo para quem visitar a cidade. Aproveitamos o resto do dia para descansar na pousada.

Dia 8) Andaraí → Rio

Dia de voltar pra casa. Pela manhã tomamos o transporte que já havíamos contratado para nos levar para o aeroporto de Lençóis. De lá, um voo para Salvador e, depois, um voo para o Rio de Janeiro.

Resumo das trilhas

DiaTrilhaDistânciaTempoD.M.G.E.AP.E.A
Dia 2Bomba – Rancho8,4 Km03:40926 m - 1304 m470m134m
Dia 3Rancho – Toca do Gavião13,2 Km03:001252 m - 1421 m470m464m
Cachoeirão por Cima5 Km (*)2:40 (*)1175 m - 1269 m71 m (**)139 m (**)
Dia 4Toca do Gavião – Ruinha5,6 Km02:001070 m - 1306 m180 m356 m
Exploração Funis por cima4,9 Km03:40979 m - 1149 m331 m290 m
Funis por cima – D. Raquel3,1 Km01:50924 m - 1180 m112 m294 m
Dia 5D. Raquel – Morro do Castelo (*)6,2 Km(*)4:40(*)912 m - 1372 m565 m (**)121 m (**)
D. Raquel – Sr. Eduardo8,4 Km03:15666 m - 932 m288 m538 m
Dia 6Sr. Eduardo – Cachoeirão por Baixo5,6 Km (***)6:20 (*)676 m - 880 m (**)295 m (**)93 m (**)
Dia 7Sr. Eduardo – Andaraí14,8 Km05:50411 m - 1082 m671 m905 m
(*) ida e volta
(**) somente ida
(***) ida e volta sem exploração do canyon
D.M. = desnível máximo
G.E.A. = ganho de elevação acumulado
P.E.A. = perda de elevação acumulada
Por: Ângelo Vimeney
Publicado em: 03/06/2016

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