Yosemite National Park
California, EUA
14 dias - jun/2015

Roteiro

Gostaríamos de conhecer o máximo do Yosemite Valley (setor mais visitado e popular do parque), como também Tuolumne Meadows (ao norte e em maior altitude), além de algumas das inúmeras trilhas selvagens que cortam toda a sua extensão. Inicialmente, pensamos em subir do Yosemite Valley para Tuolumne Meadows pela John Muir Trail e depois descer de volta para o vale por alguma outra trilha paralela. Não conseguimos os permits necessários para este roteiro, mas conseguimos a opção de subida através da Snow Creek. Estudando melhor sobre esta trilha, descobrimos que é uma das mais exigentes do parque: uma subida de 792m do fundo do Tenaya Canyon até a sua borda, por um zigue-zag de apenas 2,7 Km de extensão. Algo não muito aconselhável para quem está só começando uma excursão de duas semanas dentro do parque com cargueira nas costas.

Acabamos trocando a perna de subida para Tuolumne Meadows por uma travessia na parte norte (Tenaya Lake para Tuolumne Meadows), emendando na sequência a descida para o Yosemite Valley. A troca nos obrigou a contar com alguma forma de transporte do Yosemite Valley para o norte, onde começaríamos a caminhar. Mas se mostrou um roteiro muito melhor do que o original. Primeiramente porque eliminamos do roteiro a trilha de subida para Tuolumne Meadows, que seria extremamente desgastante. Depois porque levar desde o vale toda a comida envolvida na subida e regresso de Tuolumne Meadows, dentro dos bear canisters seria um grande problema.

Mapa com nosso roteiro
Mapa com nosso roteiro

Ficamos muito satisfeitos com o roteiro realizado. Conhecemos as maioria das atrações do Yosemite Valley, conhecemos os cenários exuberantes de Tuolumne Meadows e gastamos bastante tempo caminhando imersos na parte selvagem do parque. Eu recomendaria para um amigo toda a repetição. Existindo mais dias disponíveis, e disposição, eu acrescentaria apenas a Panorama Trail, que infelizmente acabou ficando de fora. Voltando ao parque, eu não repetiria este roteiro. Não por achar que não valeria a pena, mas porque o Parque oferece tantas alternativas de percurso que eu preferiria explorar as trilhas e regiões que ainda não tive a chance de conhecer.

No mapa ao lado você pode conferir nosso percurso no parque. Estão em destaque o traçado de todas as trilhas que fizemos com cargueira. A numeração colorida indica nossos dias de estadia no Parque. Não aparece no mapa apenas o último dia, que fica na parte mais ao sul. Ao final da página existe um quadro resumindo os dados das principais trilhas que fizemos. Na página de downloads estão disponibilizados todos os tracklogs que gravamos durante a viagem. Abaixo, descrevo brevemente como foram cada um dos nossos 14 dias dentro do Yosemite:

1º dia - San Francisco para Yosemite Valley

Tomamos café da manhã no hostel e fomos buscar o carro que havíamos reservado na locadora que fica bem em frente. Todas as estradas desde San Francisco até o Parque são muito bem conservadas e sinalizadas. Havíamos levado um mapa rodoviário, gerado com o Google Maps e um descritivo do caminho que obtive no Trip Advisor. Adicionalmente, ainda estávamos com GPS. Ao usar o GPS é importante se certificar de que ele está levando você para a entrada do Parque que você deseja. Tome cuidado pois existe mais de uma entrada, distantes vários quilômetros uma da outra.

Na estrada rumo ao Yosemite
Na estrada rumo ao Yosemite
Foto: Felipe Vimeney

A partir de San Francisco, existem basicamente duas opções de caminho para o Yosemite Valley: Pela CA-120 ou pela CA-140. Optamos pela CA-140 pois vimos informações de que esta era a opção mais utilizada, com menor elevação e mais bonita. Saímos de San Francisco em torno das 11:00 da manhã e chegamos no parque por volta das 17:00, totalizando 6 horas de viagem. Paramos para almoçar e abastecer na cidade de Merced, cerca de 125 Km do parque, onde gastamos cerca de 1,5 horas.

A experiência de dirigir nas estradas americanas, num cenário diferente foi bastante interessante. Mas na realidade não vimos paisagens deslumbrantes até entrar no parque. Em compensação, quando entramos na El Portal Road e começamos a margear o Merced River em direção ao fundo do vale, os visuais não pararam de impressionar. As primeiras visões do El Captain são inesquecíveis. Promessa de duas semanas de paisagens incríveis. Chegando no parque procuramos nosso campsite no Lower Pines e montamos nosso acampamento. Neste dia só tivemos tempo de nos instalar e descansar para começar as caminhadas no dia seguinte.

2º dia - Upper Yosemite Fall & Yosemite Point

Reservamos este dia para a realizar a trilha Upper Yosemite Fall, esticando até o Yosemite Point. É uma das trilhas bate-e-volta mais cansativas a partir do Yosemite Valley. Começamos a caminhadas atrás do Camp 4 às 09:40. Ao meio-dia chegamos no mirante ao final da Upper Yosemite Fall Trail, após vencer 5,3 Km de distância e 800 metros de desnível sob um sol que nos lembrou bastante o verão carioca. Descansamos e caminhamos um pouco mais até a ponte sobre o Yosemite Creek, onde pudemos nos reabastecer de água para completar os 2,5 Km adicionais até o Yosemite Point. Alcançamos o Yosemite Point às 14:30 e estávamos de volta ao início da trilha às 17:20. Um total de 7 horas e 40 minutos de trilha.

Upper Yosemite Fall vista da trilha de mesmo nome
Upper Yosemite Fall vista da trilha de mesmo nome

O esforço valeu a pena. Adorei a caminhada, em especial o Yosemite Point. No entanto, fiquei desapontado com a propaganda que eu lembrava sobre a trilha: "trilha até o topo da Upper Yosemite Fall com vistas deslumbrantes da cachoeira". De fato, a trilha vai até o topo da Upper Yosemite Fall, e de fato você consegue ter belas vistas da cachoeira. Só que as vistas da cachoeira acontecem nos primeiros 3 Km de caminhada. Chegando no topo do canyon, não existe mais ângulo para visualização. O visual do vale é impressionante, mas pode ser decepcionante para quem espera ter uma bela visão da queda d'água. Fazendo muito esforço, nos arredores do Yosemite Point, é possível ver uns espirros d'água da cachoeira no paredão, porém nada expressivo.

Tomamos o shuttle de volta para o Lower Pines e de lá resolvi fazer uma caminhada adicional até o Mirror Lake. Saí às 18:40 e alcancei o lago às 19:10. O lago é bonito, mas no horário que cheguei já havia pouca luz incidindo sobre as montanhas que ficam refletidas no espelho d'água, então o efeito visual que dá nome ao lago não estava lá dos melhores. De qualquer forma, valeu a pena como uma atração adicional depois de um dia com a bela caminhada que já havíamos realizado.

3º dia - Yosemite Valley para Tuolumne Meadows

Após duas noites no Lower Pines, chegou a hora de levantar acampamento e tomar a estrada para Tuolumne Meadows. Lá na parte norte do parque faríamos algumas caminhadas e depois começaríamos a trilha de volta para o Yosemite Valley. Antes porém, fomos até a Curry Village, deixar nos bear lockers parte dos suprimentos que precisaríamos apenas uma semana depois, quando alcançássemos o Yosemite Valley novamente. Na Curry Village foi também onde compramos as passagens para o ônibus que precisaríamos somente 9 dias depois, para nos levar até o Glaciar Point. Mesmo com tanta antecedência, quase não conseguimos passagens para a data que precisávamos. Deixamos os carros estacionados em frente à Curry Village e pegamos o ônibus das 8:45 para Tuolumne. Tivemos a sorte de 2015 ser o primeiro ano em que este transporte foi oferecido gratuitamente.

As primeiras paisagens na chegada à parte norte do parque são sensacionais. Imediatamente tivemos certeza de que valeu a pena incluí-la no roteiro. Às 11:45 descemos em frente ao Tuolumne Meadows Visitor Center. Em Tuolumne não tínhamos reserva de campsite, mas nossos permits de trilha selvagem nos davam direito ao pernoite no Backpacker's Camp. Com as cargueiras, gastamos meia hora caminhando até lá a partir do Visitor Center. Uma alternativa seria pegar o shuttle no Visitor Center e descer no ponto seguinte, o Tuolumne Meadows Campground and Store. Montamos nosso acampamento, fizemos um lanche no Tuolumne Meadows Grill e tomamos o shuttle para resolver duas tarefas no Wilderness Center: alugar os bear canisters e buscar nossos permits para a trilha do dia seguinte.

Olmsted Point com Half Dome ao fundo
Olmsted Point com Half Dome ao fundo

Obrigações cumpridas, mais uma vez pegamos o shuttle, desta vez para visitar o Olmsted Point. Lugar fantástico. Na sequência, iríamos para o Tenaya Lake, porém descobrimos tardiamente que, ao contrário do Yosemite Valley, em Tuolumne os shuttles param apenas nos pontos solicitados. Com isso, perdemos nosso ponto e acabamos fazendo uma visita ao Pothole Dome. Não chegamos a subir no domo pois não havíamos desistido da ideia de curtir o fim da tarde no Tenaya Lake. Porém não tínhamos mais horários de ônibus disponíveis para isso. O jeito foi pegar uma carona com um casal muito simpático que dirigia em direção ao lago. Curtimos bastante o lindíssimo lago e voltamos para preparar nosso jantar e descansar para a trilha do dia seguinte.

4º dia - Tenaya Lake para Glen Aulin

Acordamos cedo para dar início ao que seria um dos mais cansativos dias da viagem. Na noite anterior já havíamos separado parte dos nossos suprimentos para deixar estocados em um bear locker, aguardando nossa segunda passagem por Tuolumne Meadows. Levantamos acampamento e caminhamos até os lockers que ficam próximos ao Lembert Dome, local onde chegaríamos de volta à Tuolumne, dois dias depois. Guardamos os suprimentos e corremos para pegar o shuttle que já estava prestes a passar por aquela parada (stop 4). Entramos no ônibus nos últimos segundos antes da sua partida e então estávamos rumo à stop 11, May Lake Trailhead, próximo do local onde começamos nossa trilha.

Começamos a caminhar às 09:10. Devido ao comprimento da trilha, tínhamos receio de não conseguir chegar em Glen Aulin, ponto onde teríamos água garantida. Diferentemente da maioria das trilhas que faríamos, nesta não haviam indicações claras de pontos de água durante o percurso. Quando chegamos em May Lake, enchemos de água todos os reservatórios que possuíamos pois, até Cathedral Creek, acreditávamos que poderíamos não encontrar água. Na verdade, descobrimos durante o percurso, que existiam várias opções de reabastecimento. Registramos estes pontos no tracklog deste dia.

Cachoeira na chegada à Glen Aulin
Cachoeira na chegada à Glen Aulin

A trilha é bem bonita, com o visual bem peculiar daquela parte do parque, repleto de montanhas com rochas claras brilhando sob o sol, muitas vezes com cumes distantes cobertos de neve. Deixando May Lake, encontramos a cerca 2,5 Km depois, o Raisin Lake um lindíssimo lago, um pouco escondido da trilha, onde não resistimos a uma parada. Nesta trilha encontramos marmotas (inclusive no Raisin Lake), um lobo e tivemos nosso primeiro encontro com um urso. O bicho estava na nossa esquerda, há uns 40 metros de distância, num ponto rochoso mais elevado, nos observando muito curioso, enquanto passámos pela trilha. O ponto do encontro está também registrado no tracklog. Após 9 horas de caminhada e 17,3 Km de percurso, chegamos em Glen Aulin para um merecido banho de cachoeira gelada. Naquela noite eu estava muito cansado. Mal tinha forças pra ajudar no jantar. Tudo que eu queria era entrar no saco de dormir e descansar para o dia seguinte.

5º dia - Glen Aulin para Tuolumne Meadowns

Visual do Lembert Dome das margens do Tuolumne River
Visual do Lembert Dome das margens do Tuolumne River

Grande parte da trilha deste dia margeia o Tuolumne River. Logo na saída de Glen Aulin fomos presenteados com vistas memoráveis do rio e suas belas quedas d'água. Deu vontade de passar mais alguns dias explorando o entorno. Ao longo do percurso, belas paisagens de campos amplos e verdejantes com montanhas nevadas ao fundo. Destaque para a chegada em Tuolumne Meadows propriamente dito, nas imediações do Parsons Memorial Lodge. Um visual fantástico. Apesar do dia quente, a trilha foi bem menos exigente do que o dia anterior: apenas 10 Km em 5 horas de caminhada.

Terminamos a trilha aos pés do Lembert Dome, onde encontramos o bear locker no qual havíamos deixado parte dos nossos suprimentos dois dias antes. Resgatamos nossas coisas e aproveitamos a passagem pelo Campground Reservation Office para tentar uma vaga de última hora em um campsite dos loops. Graças ao nosso wilderness permit, tínhamos direito de pernoitar no Backpacker's Campground novamente, mas preferimos o campsite dos loops pois, além de sair mais barato (devido ao tamanho do nosso grupo), nos daria mais conforto. Montamos acampamento no novo campsite e nos apressamos para ainda aproveitar um pouco do sol durante o banho no Tuolumne River, com belo visual do Lembert Dome ao fundo.

6º dia - Lembert Dome, Dog Lake e Tenaya Lake

Reservamos este dia para explorar os arredores de Tuolumne Meadows e também descansar para a travessia de descida em direção ao Yosemite Valley. Existem vários pontos de interesse na região acessíveis a partir de trilhas com ida e volta no mesmo dia. Consideramos a visita ao Elizabeth Lake, aos Cathedral Lakes e o percurso de parte do Lyell Canyon. Acabamos optando por algo menos desgastante e muito compensador: subir o Lembert Dome e esticar até o Dog Lake.

Visual de Tuolumne Meadows do cume do Lembert Dome
Visual de Tuolumne Meadows do cume do Lembert Dome

Fizemos a visita aos dois pontos em cerca de 3,5 horas. O percurso de 7,6 Km começou no Dog Lake Parking (shuttle stop 2). Caminhamos até o cume do Lembert Dome, avançamos mais 300 metros até a beirada da rocha, onde tivemos uma bela vista sobre a região. Descemos até a base e retomamos a trilha em direção ao Dog Lake. Visitamos o lago (sem circundá-lo) e retornamos para uma bifurcação onde escolhemos uma trilha diferente para o regresso: tomamos a trilha para shuttle stop 4 (Lembert Dome stop). Terminamos a caminhada quando ainda eram 13:00. Passamos no Wilderness Center para obter nosso permit para a trilha do dia seguinte. Reservamos o restante do dia para descansar às margens do Tenaya Lake.

7º dia - Tuolumne Meadows para Vogelsang

Deixamos Tuolumne Meadows às 9:00 rumo à região de Vogelsang, na base do Fletcher Peak e às margens do Fletcher Lake. Saímos dos 2600 metros de altitude em Tuolumne para, nos 13 Km de trilha até nosso próximo destino, chegar aos 3100 metros, ponto mais elevado do nosso roteiro. Utilizamos a trilha que acompanha o Rafferty Creek.

Trilha para Vogelsang
Trilha para Vogelsang

Foi um dia de paisagens marcantes. Em especial, na segunda metade percurso. Apesar do sol intenso e da subida constante, ali pudemos observar o traçado da trilha se perdendo na distância, através do amplo descampado, enquanto no horizonte se revelava, imponente, a cadeia de montanhas do Fletcher e Vogelsang Peak, cobertas de neve. Dois quilômetros antes da chegada, encontramos a bifurcação de acesso ao Boothe Lake. Preferimos ignorá-la e seguir direto para nosso destino. Felizmente conseguimos visualizar algumas porções deste lago a partir da nossa trilha original e também de bem próximo do nosso acampamento.

Chegamos em Vogelsang às 15:10, após cerca de 6 horas de caminhada. Montamos as barracas afastadas do lago, num ponto mais protegido do vento e dos mosquitos. Acampamento montado, não resistimos à subida na encosta do Fletcher Peak para fazer algumas fotos com a neve que ainda estava acumulada por ali. Na descida, um banho nas águas congelantes do Fletcher Lake.

8º dia - Vogelsang para Merced Lake

Saindo de Vogelsang, tínhamos duas alternativas de percurso até Merced Lake: ou seguir o Fletcher Creek ou o Lewis Creek. Optamos pela primeira, possivelmente a rota mais popular e menos desgastante. Partimos às 9:50. Como teríamos um dia relativamente mais fácil (uma longa descida até o Merced Lake), decidimos incluir no trajeto as trilhas opcionais para visitar o Emeric Lake e Babcock Lake.

Após cerca de 4 Km de caminhada, estávamos na bifurcação de acesso ao Emeric Lake. Em menos de 15 minutos estávamos na margem do belo lago fazendo fotos. Analisando o mapa, decidimos continuar caminhando pela margem do lago na expectativa de reencontrar nossa trilha original mais à frente. O lago é separado da trilha original apenas por um morrote rochoso, porém sua encosta é escarpada e quanto mais avançávamos, mais colada à margem do lago ela ficava, com pedras grandes de deslizamento amontoadas, dificultando o progresso. Decidimos voltar pelo mesmo caminho em que viemos.

Merced Lake com Half Dome ao fundo
Merced Lake com Half Dome ao fundo

Retomada a trilha original para Merced Lake, caminhamos mais 3 Km até encontramos a placa indicando a bifurcação para o Babcock Lake. Descobrimos que esta é, aparentemente, uma trilha nova para este lago. Isto porque, no tracklog que usávamos como referência, a entrada para a trilha antiga teria ficado 200 metros atrás. A trilha para o lago alcança o Fletcher Creek, onde descobrirmos que precisaríamos descalçar as botas para cruzá-lo. Para evitar isso, começamos a margeá-lo contra a corrente a fim de encontrar um ponto melhor para a travessia. No final da visita, não molhamos os pés, mas acabamos fazendo um percurso que não corresponde exatamente nem a trilha antiga, nem a trilha nova. Se tivéssemos margeado o córrego a favor da corrente, teríamos logo descoberto um bom ponto para travessia, que nos manteria na tal trilha nova. Se você utilizar nosso tracklog como referência, recomendo o caminho que segue sempre mais ao sul.

Após o Babcock Lake, ainda tínhamos mais 5,5 Km de caminhada pela frente. Curtimos belos visuais das quedas do Fletcher Creek ao longo do percurso e encaramos uma interminável descida de onde pudemos ter uma bela vista do Merced Lake ao longe, além das costas do Half Dome, mais distantes ainda. Ficamos imaginando quão duro seria fazer esse percurso no sentido contrário. Chegamos em Merced Lake após 16,8 Km e 6 horas de caminhada (incluídos os 4 Km, e 1 hora e 40 minutos consumidos na visita aos dois lagos). O Merced Lake é muito bonito, mas suas margens são cheias de lodo e pedras escorregadias dificultando a entrada na água. Tomamos o melhor banho da excursão nos belíssimos poços formados pelo Merced River, pouco antes da área de acampamento, com direito a hidromassagem natural embaixo das quedas d'água.

9º dia - Merced Lake para Little Yosemite Valley

Às 9:30 começávamos mais uma belíssima caminhada. Apesar de alguns trechos com ganho de elevação, nosso dia seria basicamente de descidas, saindo dos 2210 metros de altitude em Merced Lake até os 1860 metros em Little Yosemite Valley (LYV). A trilha começa margeando o Merced Lake e segue acompanhando o Merced River até nosso próximo destino, à 14 Km de distância. Ao longo do percurso, diversas quedas d'água enquanto o rio trafega através do vale estreito, com paisagens exuberantes.

Caminhando na floresta queimada rumo ao LYV
Caminhando na floresta queimada rumo ao LYV

Após 9 Km de caminhada o rio faz uma curva para o sul e começa a adentrar um profundo bosque de pinheiros. Durante nossa passagem encontramos essa região consumida por um incêndio florestal. O incêndio consumiu cerca de 2000 hectares em setembro do ano anterior e foi causado por brasas deixadas pelas tempestades elétricas de julho. Percorremos aproximadamente 4 Km de trilha por dentro da floresta morta. Um sombrio cenário formado pelo solo coberto de cinza e pelas carcaças dos grandes pinheiros ainda de pé, porém negras. A falta de vegetação e o sol forte transformaram esse trecho num forno. Não víamos a hora de nos refrescar no rio.

Chegamos ao LYV após 5 horas e 40 minutos de caminhada. Diferentemente do que tínhamos visto até então, encontramos o LYV com muitos visitantes. Procuramos um pouco até encontrar um bear locker livre para nosso grupo. Montamos nossas barracas e fomos tomar banho numa excelente praia formada pelo Merced River, a 300 metros do acampamento.

10º dia - Half Dome & LYV para Yosemite Valley

Tínhamos um longo dia pela frente. Por isso, às 06:20 já tínhamos enchido nossos cantis no Merced River e começávamos a subida da trilha para o Half Dome. Após 4,5 Km de caminhada, havíamos ganhado 530 metros de altitude e chegamos no último ponto onde teríamos sombra em abundância para descansar, aos pés da rocha exposta. Na sequência, um trecho bem íngreme e mais exposto onde ganhamos 200 metros de altitude até a base dos cabos de aço. Neste ponto, o paredão de rocha final se mostra com toda a sua imponência bem na sua frente. Apresentamos nossos permits, descansamos um pouco e encaramos os cabos para vencer os 120 metros de desnível finais. Às 9:20 estávamos no cume do Half Dome.

Os cabos de acesso ao Half Dome
Os cabos de acesso ao Half Dome

O visual é impressionante. São 360o de belas montanhas. Lá em cima, uma marmota esnobava os visitantes mostrando sua facilidade para atingir o cume e ainda roubar o lanche dos desatentos. A visita valeu muito a pena, mas particularmente preferi as vistas a partir do Glaciar Point, Olmsted Point e Taft Point. Gastamos uma hora lá em cima, apreciando o visual e caminhando pelo enorme platô. Durante nossa subida os cabos estavam disponíveis praticamente só para o nosso grupo. Na hora da descida, já estavam muito mais concorridos.

Estávamos de volta ao início da trilha às 13:15, seis horas após nossa saída. O dia estava quente e durante todo o percurso até o Half Dome não existe nenhum ponto de água. Estávamos com muita sede e calor. Não resistimos a um último mergulho no Merced River antes de levantar acampamento. Partimos de LYV para o Yosemite Valley pouco antes das 15:00. Ainda tínhamos 6,8 Km de trilha pela frente. Faríamos uma grande descida, dos 1860 metros até os 1250 metros no chão do vale, mais uma vez acompanhando o curso do Merced River.

Optamos em fazer a descida pela Mist Trail, passando assim pelas belíssimas Nevada Fall e Vernal Fall. Ambas estavam com um bom volume de água. Achei a Vernal Fall a mais bonita do parque, derramando suas águas com violência num poço esverdeado, cheio de rochas, com arco-íris constantemente sendo formados pelo estouro das águas. Desde a Nevada Fall até o final da trilha só vimos o tráfego de pessoas aumentar. Chegando na Vernal Fall, nossas gigantes mochilas já contrastavam bastante com perfil da maioria do público ali. Terminamos a trilha em Happy Isles às 17:10, onde pegamos o shuttle para a Curry Village. Recuperamos os suprimentos que havíamos guardado no bear locker na semana anterior e rumamos para o Backpackers' Camp, atrás do North Pines, onde passaríamos aquela noite. Para encerrar o dia com chave de ouro, presenciamos um urso rondando a área do acampamento.

11º dia - Tunnel View & Bridalveil Fall

Bridalveil Fall e a Leaning Tower, ainda iluminada pelo sol
Bridalveil Fall e a Leaning Tower, ainda iluminada pelo sol

No nosso roteiro havíamos reservado este dia para a Panorama Trail. Porém, sabíamos que dificilmente teríamos tempo para executá-la. Isso porque esta trilha é relativamente longa e se inicia no Glaciar Point, exigindo uma logística enrolada. Junto a isso, ainda tínhamos algumas tarefas a cumprir no Valley. Primeiramente, iríamos nos mudar para o acampamento Upper Pines. Nossos permits garantiam mais uma noite no Backpackers' Camp, mas teríamos mais conforto no Pines. Mudança realizada, precisávamos obter nosso wilderness permit para a trilha do dia seguinte, a Pohono Trail. Para isso, fomos até a Yosemite Village, onde fica o Wilderness Center. Aproveitando, gastamos um bom tempo visitando a Ansel Adams Gallery, o Visitor Center e a Yosemite Store.

Nossa próxima obrigação era deixar um carro estacionado na Tunnel View, onde terminaríamos a Pohono Trail dois dias depois. Utilizaríamos este carro para voltar os 10,5 Km dali até o Yosemite Valley ao final daquela trilha. Fomos até lá em dois carros, tiramos algumas fotos a partir do lindíssimo mirante e pegamos a estrada de volta em apenas um dos carros. No caminho, aproveitamos para fazer uma rápida visita à Bridalveil Fall. Havia pouca água e a iluminação não era muito boa, pois já eram 20:00. De qualquer forma, valeu o esforço, já que a trilha para avistá-la é muito curta. Voltamos para a Curry Village para tomar banho e comer pizza com cerveja: Calorias para começar mais uma travessia no dia seguinte.

12º dia - Glaciar Point para Bridalveil Bridge

Levantamos acampamento e seguimos para a Curry Village, onde nove dias antes havíamos comprado tickets do tour para o Glaciar Point, com saída agendada para às 10:00. Nossos tickets eram apenas de ida, já que retornaríamos do Glaciar Point através da Pohono Trail. Eram cerca de 09:45 e estávamos ao lado do posto onde compramos nossos tickets, no mesmo ponto em que embarcamos para Tuolumne Meadows anteriormente. Resolvemos confirmar se nosso ônibus de fato sairia dali. Pra nossa surpresa, descobrimos que não! Estávamos no lugar errado. A partida do tour para o Glaciar Point acontece no Yosemite Lodge, a 2,7 Km dali. Corremos para o ponto do shuttle e torcemos para que ele chegasse o quanto antes. Embarcamos. Descemos na Yosemite Village e corremos para entrar no outro shuttle que estava parado mais à frente, na stop 4, evitando assim o tempo que gastaríamos indo até The Ahwahnee e retornando. Desembarcamos no Yosemite Lodge e o ônibus do tour estava posicionado para a partida, com os passageiros recebendo as últimas instruções antes do embarque.

Taft Point
Taft Point

Depois do grande susto, finalmente estávamos na estrada em direção ao Glaciar Point. O ônibus foi dirigido por um motorista muito simpático, veterano no parque, que nos passou muitas informações interessantes sobre a região durante o percurso. Chegamos ao nosso destino em torno das 11:35. O visual do Glaciar Point é espetacular. Considero o mais bonito visual panorâmico da viagem. É possível fotografar, num mesmo quadro, o Half Dome com a Nevada e Vernal Fall à sua direita. Avistamos também grande parte do Yosemite Valley, a Yosemite Fall e as montanhas distantes da parte norte, onde nós estávamos alguns dias antes. Assim como todo o planejamento para este parque, entendemos porque é também necessário comprar com antecedência os tickets deste tour.

Às 12:30 iniciamos a Pohono Trail. O sol estava escaldante. Começamos já com uma subida de 200 metros de desnível até a bifurcação para o Sentinel Dome. Pouco acima da bifurcação existe uma construção onde deixamos nossas cargueiras nos esperando, enquanto fomos ao topo do Sentinel Dome. Bem bonito, mas difícil de competir com o que tínhamos acabado de ver no Glaciar Point. Recuperamos as cargueiras e às 14:00 estávamos prosseguindo a Pohono Trail. Cerca de 1,5 Km depois, encontramos o Sentinel Creek, que seria nossa última fonte de água antes do Bridalveil Creek, nosso destino final. Após mais 2 Km, incluindo uma subida de 100 metros de desnível, estávamos numa área conhecida como The Fissures, um local imperdível. É um enorme platô rochoso na beira do canyon com enormes falhas, as fissuras, através das quais se vê as montanhas e o vale centenas de metros abaixo. É na ponta de uma destas fissuras que encontramos o Taft Point, um ponto de excelente visualização e ótimo fundo para fotografias.

Estávamos com muita sede e felizmente dali até Bridalveil Creek foi um longo trecho de declive. Eram 16:10 quando avistamos com alegria a ponte de madeira sobre o Bridalveil Creek. Achamos um bom ponto de acampamento uns 200 metros depois da ponte. Montamos nossas barracas e voltamos para o rio, onde tomamos o último banho gelado da viagem. Os pontos onde deixamos as mochilas durante o ataque ao Sentinel Dome, o ponto de água no meio da trilha e o local do acampamento estão sinalizados no tracklog deste dia.

13º dia - Bridalveil Bridge para Tunnel View

Às 09:00 havíamos levantado nosso acampamento e estávamos começando o segundo dia da Pohono Trail. Nosso destino final era a Tunnel View, onde havíamos estacionado nosso carro duas noites antes. Pela frente, tínhamos mais 12 Km de trilha a ser percorrida. Nos primeiros quatro quilômetros vencemos um desnível de cerca de 160 metros até chegar no Dewey Point, um belo mirante para o vale, para a Leaning Tower, Cathedral Rocks e outras montanhas próximas. Cerca de meia hora depois, um novo mirante, o Crocker Point, e com mais 15 minutos de caminhada o Stanford Point, ambos com vistas para a mesma cadeia de montanha já avistada anteriormente a partir do Dewey Point.

Visual a partir do Dewey Point
Visual a partir do Dewey Point

Após mais 1,3 Km de leve ascensão, estávamos começando uma das mais abruptas descidas da viagem: cerca de 750 metros de desnível em pouco menos de 4 Km de trilha. Mais uma vez ficamos imaginando o quão desgastante seria se tivéssemos optado por fazer a trilha no sentido contrário. A descida parecia que não iria acabar nunca e os poucos pontos com visual repetem o mesmo cenário que já havíamos visto anteriormente a partir da Tunnel View. Talvez essa dia de trilha tenha sido o menos interessante da viagem. Encontramos com algumas pessoas subindo esta trilha a partir da Tunnel View, sem cargueiras, apenas como um passeio de ida e volta no mesmo dia. Eu não recomendaria. Acho que a partir do Valley existem opções melhores de caminhada.

Chegamos na Tunnel View com apenas 4 horas e 25 minutos de caminhada. Estávamos com bastante sede. Mais uma vez o dia estava quente e, assim como no dia anterior, esta segunda parte da Pohono Trail também não tem muita oferta de água (marquei um ponto de reabastecimento no tracklog). Recuperamos o carro e montamos nosso acampamento novamente no Backpackers' Camp. Depois de um bom banho, ainda restava tempo para uma visita à Lower Yosemite Fall. Tomamos o shuttle do Valley e às 19:20 estávamos começando a caminhada. Se trata de um circuito asfaltado, de menos de 2 Km, que leva à base da Lower Yosemite Fall, permitindo belas visões da cachoeira. A iluminação no horário já não estava muito boa para fotos. Completamos o percurso em aproximadamente 20 minutos.

14º dia - Mariposa Grove para San Francisco

Tomamos café da manhã no Backpackers's Camp e levantamos nosso acampamento pela última vez. Carregamos os carros com todo o equipamento e seguimos para o Wilderness Center, para devolver os bear canisters. Em torno das 08:45 estávamos deixando a Yosemite Village em direção ao Mariposa Grove, na parte sul do parque, onde iríamos visitar as famosas sequóias gigantes. Estávamos com receio de não conseguir fazer essa visita. Isso porque, esta área do Parque estava prestes a ser fechada para o público. Durante nosso planejamento, no entanto, ainda não tinha sido definida uma data exata para a interdição. Para nosso sorte, a área foi fechada apenas em 6 de julho, pouco mais de uma semana depois da nossa visita. A previsão de reabertura é o primeiro semestre de 2017.

Sequóia gigante no Mariposa Grove
Sequóia gigante no Mariposa Grove

Tomamos a Wawona Road e, após aproximadamente 45 minutos de viagem, estávamos estacionando em frente à Wawona General Store, ao lado do Wawona Hotel. Ali, tomamos o shuttle do próprio Parque, que nos deixou na portaria do Mariposa Grove, 15 minutos depois. Esse shuttle é muito útil pois existem poucas vagas próximas à portaria, as quais se esgotam rapidamente. Na estrada, próximo à saída do shuttle, o parque já havia disposto placas sinalizando que o estacionamento em Mariposa Grove estava lotado. Às 10:15 estávamos começando a percorrer a trilha (mais próxima de uma aléia) através do bosque.

Logo no início passamos pela Fallen Monarch, uma sequóia caída a mais de 300 anos. Avistamos um pouco à frente um park ranger que estava passando informações sobre as árvores para um grupo de visitantes. Nos reunimos ao grupo e fomos acompanhando o ranger pelo circuito. A visita guiada valeu muito a pena. Terminamos nosso percurso visitando a Grizzly Giant (uma gigante de cerca de 1800 anos de idade) e a California Tunnel Tree (uma sequóia com um túnel construído através do seu tronco). Pouco antes do meio dia estávamos de volta, prontos para embarcar no shuttle até a Wawona Store. Restava outra parte do Mariposa Grove para visitar, mas ainda tínhamos uma longa estrada para encarar até San Francisco.

Almoçamos no Wawona Hotel e às 14:00 estávamos tomando a estrada. Seguimos a Wawona Roda (CA-41) até CA-49. Entramos na CA-49 até a CA-140. Tomamos a CA-140 e daí em diante fizemos a rota exatamente inversa que utilizamos para chegar no Parque. A viagem foi tranquila, apenas com um pouco de retenção na 580, no trecho entre Livermore e Dublin. Chegamos em San Francisco às 18:40. Do Wawona Hotel até lá foram 338 Km. Aproximadamente 25 minutos depois estávamos entrando no hotel onde passaríamos mais uma semana para conhecer San Francisco.

Resumo das principais trilhas

DiaTrilhaDistânciaTempoD.M.G.E.A.P.E.A.
2Upper Yosemite & Yosemite Point (ida e volta)14,2 Km7,8 h1214 m - 2136 m1337 m1309 m
4Tenaya Lake para Glen Aulin17,3 Km9,0 h2395 m - 2851 m628 m730 m
5Glen Aulin para Tuolumne Meadows10,7 Km5,3 h2405 m - 2636 m434 m234 m
6Lembert Dome & Dog Lake7,6 Km3,6 h2597 m - 2876 m426 m500 m
7Tuolume Meadows para Vogelsang13,1 Km6,2 h2642 m - 3099 m633 m192 m
8Vogelsang para Merced Lake (com lagos)16,8 Km6,1 h2196 m - 3091 m484 m1377 m
9Merced Lake para Little Yosemite Valley14,1 Km5,6 h1864 m - 2216 m247 m600 m
10Half Dome (ida e volta)11,6 Km5,8 h1881 m - 2691 m979 m992 m
10Little Yosemite Valley para Happy Isles6,3 Km2,3 h1254 m - 1882 m106 m716 m
12Glaciar Point para Bridalveil Bridge10,7 Km4,4 h2027 m - 2466 m497 m638 m
13Bridalveil Bridge para Tunnel View11,8 Km4,4 h1356 m - 2244 m376 m1109 m
D.M. = desnível máximo
G.E.A. = ganho de elevação acumulado
P.E.A. = perda de elevação acumulada

Links úteis e referências:

Informações sobre o incêndio na região do Little Yosemite Valley:

Fechamento temporário do Mariposa Grove:

Por: Ângelo Vimeney
Publicado em: 04/05/2016
Última atualização: 01/01/2023

Deixe seu comentário!


Localização




Galeria de fotos




Acompanhe as novidades:




Gostou? Compartilhe!




Além dos relatos:


Cartas topográficas
Cartas topográficas
Originais disponíveis
para download!

Mais populares:


Yosemite
Yosemite
jun/2015
14 dias
Marins x Itaguaré
Marins x Itaguaré
Junho/2019
3 dias
Alto Palácio x S. Alves
Alto Palácio x S. Alves
Abril/2019
3 dias
Chapada Diamantina
Chapada Diamantina
Out/2015
6 dias
Yellowstone
Yellowstone
set/2018
14 dias
Chapada Diamantina
Chapada Diamantina
Abr/2017
6 dias